Era mais uma madrugada, Megan viajava nas páginas de um
livro, estava mais uma vez lendo seus romances. Sempre fora apaixonada por livros,
e nos últimos meses eles eram seus companheiros. Desde o fim com o Miguel, ela
havia se fechado em um mundo de letras e amores possíveis. Fazia frio lá fora, a chuva havia dado uma
trégua, porém o frio permanecia implacável. O computador, ligado em um
aplicativo de relacionamentos, sinalizou uma mensagem.
Duas da manhã, o relógio
marcava, no entanto, a mensagem havia sido postada às vinte. Ele era magro,
pele clara, seu cavanhaque chamava atenção, mas ela não quis parar sua leitura
e responder, “ele nem está mais online” – pensou. Adormeceu poucos minutos
depois. Óculos nos olhos, boca entreaberta, pijama de coruja, seus lençóis em
rosa bebê denunciavam um coração ainda infantil, apesar dos 26 anos.
O dia amanheceu corrido, havia muito trabalho a ser feito.
Acordou às nove, ficou terrivelmente assustada ao olhar o despertador que
tocava desde às seis da manhã com algumas pausas. De súbito pulou da cama e
correu ao banheiro. Rapidamente retirou a roupa e caiu no chuveiro com água
quente. Lá fora, gotas intensas de uma chuva caíam severas.
Banho tomado, a cafeteira já preparava o café, as torradas
iam esperar que ela se vestisse. Seu celular apontava outra mensagem do
aplicativo. O mesmo homem de cavanhaque entrara em contato. Porém, atrasada e
sem dar muita atenção, fechou o celular, deu prosseguimento ao seu dia e foi
para o trabalho.
Às 17h saiu do trabalho e passou a organizar seu quarto, a
estante de livros precisava de uma senhora limpeza. A rotina noturna foi
retomada, ela tomou banho, preparou uma sopa e juntou-se ao livro da noite
anterior; notebook ligado, músicas da Neverending White Lights embalavam sua
noite de leitura. Dormiu na mesma situação da noite anterior. O dia seguinte
foi igual, com apenas algumas diferenças. E o outro também.
Vinte e uma horas da noite do dia 12 de fevereiro, seu celular
vibrou. Outro recado do aplicativo a deixou intrigada, o mesmo homem havia
deixado uma mensagem que desta vez ela decidiu ler e responder. Analisou o
histórico.
Max:
09 de fevereiro:
- Olá.
12 de fevereiro:
-Oi, se não quiser falar eu entendo, valeu.
Ele, aparentemente, estava chateado com o vácuo que tomou e
acabou deixando outra mensagem. Desta vez ela respondeu. Foi um “olá” seco, que
ele não viu, pois já não estava mais
online. Ela analisou seu perfil no aplicativo e resolveu dormir. Deitada,
pensou em que seria o estranho que, de certo modo, havia lhe chamado atenção.
“Você faz o quê da vida? Pelo que li no seu perfil, ama
livros. Mora aqui mesmo? Você é parente da garota que está com você na foto?”
Ela acordou com o som do celular que anunciava uma nova
mensagem do aplicativo. Leu o conteúdo e ficou intrigada com aquele estranho
que insistia em lhe perturbar. Resolveu que o impasse acabaria e descobriria
quem era ele.
À noite, esperou que ele entrasse, Max se surpreendeu ao
vê-la online, e ela também. Conversaram pouco, ele dormia cedo, isso explicava
não estar disponível na madrugada. Ele pediu o número do seu telefone, ela
intuitivamente passou, só depois foi pensar que talvez não fosse certo. Afinal,
nem se conheciam.
Na manhã seguinte, ele entrou em contato, avisou que
voltaria a sua cidade, pois estava em Fox a trabalho, teria 10 dias de folga e
voltaria depois para continuar o trabalho. Ela respondeu friamente. E ele
partiu. Durante os dez dias trocaram muitas mensagens e já estavam bem próximos
quando o prazo acabou.
Dois dias após o retorno dele a Fox, o telefone dela tocou:
- O que vai fazer hoje à noite? – Ele do outro lado da linha
perguntava com uma voz ansiosa.
-Nada. –Respondeu Megan sem demonstrar emoção.
-Eu passo aí às vinte horas. - Ele informou. -Okay, te espero.
Megan falou secamente.
Megan já havia sofrido algumas desilusões amorosas o que a
fazia desconfiar de tudo e de todos. Não queria criar expectativas e mais uma
vez se decepcionar.
Às vinte em ponto, ele surgiu, seu carro vermelho chamava atenção
na rua sem movimento. Ela abriu o portão e esperou que ele descesse do carro e
se dirigisse ao banco da praça que ficava em frente ao seu apartamento. Ele usava
calça jeans preta, um casaco escuro que ela não sabia dizer se era azul, um
cavanhaque bem feito e exalava um perfume que se sentia à distância.
Usando um vestido escuro e meia-calça preta, seu casaco
escuro dava um toque final na produção, que ela desejava que não chamasse
atenção. Embora esse fosse o seu desejo, era impossível não se notar suas
curvas.
Cumprimentaram-se com um beijo no rosto. Ele segurou sua
nuca enquanto fazia o gesto. Isso provocou um leve choque que ela não esperava.
Sentaram-se, e a conversa foi agradável, à uma da manhã ele foi embora, o tempo
passou sem que dessem conta.
No dia seguinte, Megan estava com uma sensação diferente,
não parava de pensar na noite anterior, na conversa agradável e naquele cheiro
que insistia em causar leves choques elétricos em seu corpo. Ele mandou uma
mensagem na qual deixou claro o quanto amou a sua boca e como desejou beijá-la.
Megan sentiu um arrepio e sabia que sentiu a mesma coisa, mas jamais revelaria.
Marcaram um novo encontro para dali a dois dias.
Perfumada, usando um vestido médio, que marcava bem suas
curvas, cabelos esvoaçantes, ela o aguardava no banco. Ele surgiu subitamente e
entregou-lhe uma rosa vermelha. Sentou-se ao lado dela e deram início a uma
conversa que foi interrompida por um olhar profundo. Ele a encarou de maneira
que um choque profundo invadiu o corpo de Megan, que agora percebia a
proximidade dos seus rostos. O beijo veio suave e quente, aos poucos ambos
entregaram-se ao momento que se intensificou. Quando se afastaram, ele a
abraçou. Novamente, à uma da manhã ele a deixou.
Na manhã calma de outono, Megan
estava de folga e decidiu passar mais tempo na cama. Lembrou de cada detalhe da
noite anterior. Algo estranho a havia dominado. Estava incondicionalmente e
inexplicavelmente apaixonada pelo intrigante forasteiro. Uma mensagem no
celular da garota dizia: “Fascinado por cada beijo seu”. O coração dela disparou
e confirmou que estava mesmo envolvida.
Durante semanas eles se
encontraram. O outono parecia ter ganhado cores, entretanto, um fato mudaria
tudo.
A empresa da qual Max fazia
parte, assinou suas férias e uma possível transferência. Ele não ficou muito
feliz com a ideia, pois também estava envolvido. Além do afastamento, ele teria
que partir imediatamente, porque precisava resolver alguns assuntos da empresa em
sua cidade natal. Entrou em contato com
Megan que o atendeu muito animada. Com voz rouca e triste ele revelou o
acontecido e marcou um encontro para o horário de sempre e no mesmo local.
O coração de Megan palpitava, ela
sentia que mais uma vez perderia alguém por quem havia nutrido um sentimento
novo e belo.
Ele chegou pontualmente às vinte
horas, com um buquê de rosas vermelhas, ele a abordou. Abraçaram-se por um
longo tempo. Ela queria chorar, mas com esforço segurou suas lágrimas. Demonstrar
sentimento não era o adequado, - pensou. Conversaram por um longo tempo. Antes de
ir embora, ele olhou-a nos olhos como na noite do primeiro beijo, segurou sua
mão, soltou aos poucos e partiu. Segundo ele, voltaria para se despedir, mas precisava
arrumar às malas.
4h da manhã, marcava o celular
quando ela acordou abraçada às flores, uma mensagem dizia:
“Princesa, eu adorei te conhecer,
você foi a melhor coisa que me aconteceu durante esses meses. Mas, lembra que eu
falei sobre odiar despedidas? Pois bem, estou na estrada há uma hora. Só agora
tive coragem para te enviar isso. Preciso que me esqueça, não irei voltar. Contudo,
levarei uma parte de você comigo. Eu finalmente me apaixonei por alguém. Um
beijo.”
Às lágrimas, ela abraçou o
travesseiro e uma cachoeira se formou em seu olhar, antes radiante, agora
apenas cheio de dor e desilusão.