Parecia mais um dia comum, era o segundo dia de aula. Laura preparou o material, correu para o banho e sem esquecer do seu vício matinal, deixou sua cafeteira à espera.
Escolheu um vestido confortável e, após bebericar seu café, finalizou sua produção e saiu.
No caminho, ouvia uma música suave e seu cérebro, como se carregasse um imã, transportou - se para o universo do "Caio".
Quem seria ele de verdade? E por que ela estava tão intrigada, ou fascinada com a presença daquele ser tão peculiar. Ela não sabia, mas estava disposta a descobrir.
Sua primeira aula era na turma dele, ao finalizar os passos, ela simplesmente não conseguia conter a taquicardia. Que coisa estranha, ela parecia novamente adolescente e estava ansiosa pelo momento do intervalo.
O esperado intervalo chegou, e ela dirigiu-se ao pátio no ímpeto de comprar algo para comer. A fila estava enorme, algumas professoras chegavam e pegavam o lanche sem enfrentar a fila; ela, porém, achava aquilo muito complicado, pois não gostava de "furar a fila". À distância, Caio a observava, divertia-se com todo aquele desconcerto da sua incógnita. Ele, num surto de coragem, afinal era um tímido irreparável, aproximou-se dela e discretamente falou:
- Oi, Profe, sabia que você não precisa enfrentar uma fila?
- Oi! Bom, é que eu não acho muito educado passar à frente das pessoas. -Falou Laura, quase que sussurrando. Agradeceu com um sorriso a informação, ele se retirou em seguida, intrigado com o senso de educação daquela mulher.
Após vencer o desafio da fila, ela sentou-se em um degrau e ficou a observar os passantes. Havia um frenesi no movimento do lugar, aquela manhã parecia que logo passaria.
Caio, entre os rapazes, parecia ser muito popular, todos passavam e o cumprimentavam, sorriam e falavam sobre qualquer coisa. Ela fingia não olhar para ele, porém não conseguia conter seus olhos curiosos que, em certo instante, encontraram acidentalmente com os dele, então ela pôde constatar que a observação era mútua.
Um frio na espinha a dominou quando percebeu que ele olhando-a fixamente se aproximava.
Sentou ao seu lado e disse um "oi" que pareceu câmera lenta aos olhos e ouvidos dela.
- Você me parece muito popular, não é? - Laura iniciou uma conversa.
- Eu tenho alguns amigos. - respondeu ele, com ar retraído.
...
Segundo dia, eu já tinha concordado em não perder um só detalhe daquela pitoresca professora. Na aula, olhava atentamente para ela que, de súbito, se aproximou e pegou o meu caderno de rabiscos. Começou a olhar e pude perceber um fato, uma característica: seu enorme globo ocular. Realmente os olhos dela eram chamativos. Quando ela finalmente parou de olhar meus desenhos, elogiou cada um e me parabenizou, e a única coisa que eu conseguia era olhar nos olhos dela. Fazia as coisas e não percebia que olhá-la era automático. Distraído na minha observação, tomei uma susto enorme quando fui atingido na boca por um lápis; sem entender muito bem o que tinha acabado de acontecer, vi a Laura me olhando com susto. Estava sangrando. Quem diria que a Mayra seria capaz de me cortar.
Depois de limpar o sangue, continuei minha análise indireta. Quando chegou a hora do intervalo, tomei coragem e decidi sentar com ela e conversar. Dentre os assuntos, descobri que ela gostava da minha banda favorita " Imagine Dragons" e por alguns segundos eu quis abraçá-la e gritar: " Um remanescente!!" (quando você mora em uma pequena cidade do interior brasileiro e decide gostar de rock, deve esperar a solidão), pois o funk acaba sendo modinha. Foi por isso que me alegrei, afinal de contas, eu tinha acabado de encontrar alguém que compartilhava do mesmo gosto musical que eu. Agora ela não era apenas minha cobaia para as análises, era também minha amiga de ROCK!
...
Depois de um longo dia, Laura deitou-se sobre o sofá e tentava descansar...sua mente saiu numa viagem, ao som de Whatever It Takes, ela pensava na vida que sempre quis ter e sobre como havia tomado rumos diferentes.
Em casa, Caio fazia mais um de seus desenhos, objetivo: impressioná-la. Ouvindo Whatever It Takes, ele orgulhava-se dos seus traços.
As horas passaram para ambos, a vida seguia seu curso.