quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Whetever It Takes

Parecia mais um dia comum, era o segundo dia de aula. Laura preparou o material, correu para o banho e sem esquecer do seu vício matinal, deixou sua cafeteira à  espera. 
Escolheu um vestido confortável e, após  bebericar seu café, finalizou sua produção e saiu.

No caminho, ouvia uma música suave e seu cérebro, como se carregasse um imã, transportou - se para o universo do "Caio".
Quem seria ele de verdade? E por que ela estava tão  intrigada, ou fascinada com a presença  daquele ser tão peculiar. Ela não  sabia, mas estava disposta a descobrir.

Sua primeira aula era na turma dele, ao finalizar os passos, ela simplesmente não  conseguia conter a taquicardia. Que coisa estranha, ela parecia novamente adolescente  e estava ansiosa pelo momento  do intervalo.
O esperado intervalo chegou, e ela dirigiu-se ao pátio no ímpeto  de comprar algo para comer. A fila estava enorme, algumas professoras chegavam e pegavam o lanche sem enfrentar a fila; ela, porém,  achava aquilo muito complicado, pois não  gostava de "furar a fila". À distância, Caio a observava, divertia-se com todo aquele  desconcerto da sua incógnita. Ele, num surto de coragem, afinal era um tímido  irreparável, aproximou-se dela e discretamente falou:
- Oi, Profe, sabia que você  não  precisa enfrentar uma fila?
- Oi! Bom, é que eu não acho muito educado passar à frente das pessoas.  -Falou Laura, quase que sussurrando. Agradeceu com um sorriso a informação, ele se retirou em seguida, intrigado com o senso de educação  daquela mulher.

Após  vencer o desafio da fila, ela sentou-se em um degrau e ficou a observar os passantes. Havia um frenesi no movimento  do lugar, aquela manhã  parecia que logo passaria.
Caio, entre os rapazes, parecia ser muito popular, todos passavam e o cumprimentavam, sorriam e falavam  sobre qualquer coisa. Ela fingia não  olhar para ele, porém  não  conseguia conter seus olhos curiosos que, em certo instante, encontraram  acidentalmente com os dele, então  ela pôde  constatar  que a observação  era mútua.
Um frio na espinha a dominou quando percebeu que ele olhando-a fixamente se aproximava.
Sentou ao seu lado e disse um "oi" que pareceu câmera  lenta aos olhos e ouvidos dela.
- Você  me parece muito popular, não  é? - Laura iniciou uma conversa. 
- Eu tenho alguns amigos. - respondeu ele, com ar retraído. 

...
Segundo dia, eu já tinha concordado em não  perder  um só  detalhe daquela pitoresca professora.  Na aula, olhava atentamente para ela que, de súbito, se aproximou e pegou o meu caderno de rabiscos. Começou  a olhar e pude perceber um fato, uma característica: seu enorme globo ocular. Realmente os olhos dela eram chamativos. Quando ela finalmente parou de olhar meus desenhos, elogiou  cada um e me parabenizou, e a única coisa que eu conseguia era olhar nos olhos dela. Fazia as coisas e não  percebia que olhá-la era automático. Distraído  na minha observação, tomei uma susto enorme quando fui atingido na boca  por um lápis; sem entender muito bem o que tinha acabado de acontecer, vi a Laura me olhando com susto. Estava sangrando. Quem diria que a Mayra seria capaz de me cortar.
Depois de limpar o sangue, continuei minha análise indireta. Quando chegou  a hora do intervalo, tomei coragem e decidi  sentar com ela e conversar. Dentre os assuntos, descobri que ela gostava da minha banda favorita " Imagine Dragons" e por alguns segundos eu quis abraçá-la e gritar: " Um remanescente!!" (quando você  mora em uma pequena cidade do interior brasileiro e decide gostar de rock, deve esperar a solidão), pois o funk acaba sendo modinha. Foi  por isso que me alegrei, afinal de contas, eu tinha acabado de encontrar alguém  que compartilhava do  mesmo gosto musical que eu. Agora ela não  era apenas minha cobaia para as análises, era também  minha amiga de ROCK!

...
Depois de um longo dia, Laura deitou-se sobre o sofá e tentava descansar...sua mente saiu numa viagem,  ao som de Whatever It Takes, ela pensava na vida que sempre quis ter e sobre como havia tomado  rumos diferentes.
Em casa, Caio fazia mais um de seus desenhos, objetivo: impressioná-la. Ouvindo Whatever It Takes, ele orgulhava-se dos seus traços. 
As horas passaram para ambos, a vida seguia seu curso.