terça-feira, 28 de março de 2017

O frio de Maio






dias em que você acorda por puro empurrão da vida. O despertador toca, toca, toca, seu desejo é ficar naquele quarto escuro e sem vida, mas os primeiros raios de sol entram pelas frestas, e você se dá conta de que o dia começou e não importa o quanto deseje ficar na cama, precisa encontrar forças para levantar.
Constatação feita, corre para um banho, deixa a cafeteira fazendo seu trabalho e sai às pressas, enrolada numa toalha, desejando ter levado o cabelo, mas sem permissão do tempo.
É a vida de adulto que cruza sua estrada. Uma parte sua desejou que os "dias de glória" chegassem, em contrapartida, outra grita por socorro cada vez que precisa assumir uma responsabilidade, ou se apaixona.
Ana estava distraída naquela manhã e tudo o que sonhava era um dia de folga, entretanto, seu relógio soava um aviso importantíssimo: o Joel vai te matar! O supermercado onde Ana trabalhava não tinha muito movimento às 6h da manhã, porém, o horário era esse. Ana, que ainda cursava a faculdade, estava sempre desesperada por mais cinco minutos de sono, pois suas madrugadas eram regadas a café e leituras, digitações, apostilas, projetos... Ela não media esforços para concluir seu curso de Jornalismo. Esforçada, volta e meia chorava, e ria de si mesma ao pensar na triste situação que se encontrava. O cubículo no qual morava, dispunha de uma cama, uma sapateira, uma pequena cômoda e alguns bancos. A pouca luminosidade dava um ar melancólico ao ambiente que não poderia ser mais deprimente. 
12 de Setembro, após luta para se preparar para o trabalho, andava rapidamente em sua bike, distraída com alguns pássaros que cantarolavam algo meio difícil de especificar, não percebeu o carro que passava em sua frente...

No chão, estática, ela usava um casaco e calça jeans, cabelos presos em um coque davam um ar jovial, embora os 25 anos tivessem cruzado sua estrada há poucos dias.
A coisa acontece mais ou menos assim: você nasceu, cresceu um pouco, passou a notar a passagem dos dias. As  pessoas começam a falar que um dia você fará 15 anos e que isso é uma coisa boa. Os quinze anos chegam e mudam sua vida. E todos falam que essa idade demora chegar, contudo, assim que ela chega, tudo passa mais rápido. O tempo voa - elas dizem.
Todo mundo já calculou na infância o que faria quando chegasse à idade adulta. Ser mãe, pai, enfermeira, um empresário, casar, não casar, ser médica, advogada, policial. Qualquer que fosse o projeto, ele existia.
O tempo passa, você faz 18 anos e diz: " falta muito tempo ainda", ou, "eu sou muito jovem". No alto dos 19 anos  você pensa: " aos 25 terei meu carro, vou pagar um apartamento, já sou quase independente."
O tempo passa mais uma vez, parece piada de mau gosto e, de repente, você fez 25 ( ʋɨռtɛ ɛ ċɨռċօ) isso preciso ser frizado.

Então, percebe que o tempo passou, seus cálculos de criança, na maioria das vezes, aconteceram de maneira torta. Uma análise profunda da sua vida não te taxaria como fracassado, mas como algo ainda  pior: um projeto de fracasso que não deu certo. 

Óbvio que ninguém se declara assassino dos sonhos de infância, porém, quando isso não ocorre, a frustração segura a corda e puxa. 
Assim, Ana se sentia enquanto caía da bike.

Atrás do volante alguém praguejava. Bater  numa desavisada, àquela altura do campeonato seria a gota d'água. 
Olhos negros, barba por fazer, ar compenetrado, assim Riccardo se dirigia ao seu trabalho a dois quarteirões dali, porém o destino lhe pregava uma peça.
Continua...