segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Sete anos depois






A noite estava quente e úmida, a lua e duas estrelas no Céu testemunhavam um reencontro totalmente inesperado.
Uma multidão caminhava na rua iluminada, dois dias e seria o Natal. Uma alegria contagiava a todos.  A teoria do Espírito Natalino parecia fazer todo sentido quando se olhava o semblante dos passantes.  Era difícil calcular a quantidade de pessoas que visitavam o Presépio no centro da pequena cidade de Itaguaí naquela noite.
De repente, em meio a tantos rostos desconhecidos, uma mulher de cabelos longos e negros surgia. Seu vestido vermelho esvoaçante destacava sua silhueta delicada. Os olhos profundos cruzaram subitamente com os olhos de Marcos.  E como um filme,  cuja cena acaba de ser congelada,  eles paralisaram-se frente a frente. Seus olhos fixaram-se e por longos minutos apenas se olharam...
O silêncio foi quebrado com um turista passou entre os dois pedindo desculpas em um portunhol.

- Faz sete anos, - Marcos quebrou o gelo.
-Sim. Como você está?  -Disse Ana com voz trêmula.
- Bem. Muita coisa mudou. Estou bem.  - Respondeu  Marcos, ainda fixando o olhar nos profundos olhos verdes de Ana.
- Okay. Foi bom ver você. – Ana falou, começou virou-se lentamente e saiu a passos lentos, o que lhe permitiu ouvir Marcos, com voz entrecortada, balbuciar:
- Okay.

Marcos também foi embora. Enquanto mudavam os passos, as lágrimas de Ana desciam tímidas, com as mãos ela as enxugava e tentava sair dali o mais rápido possível.  O coração dele palpitava. Não esperava aquele reencontro. Havia uma dor inexplicável em seu semblante, ele pensava em todas as vezes que pôde tocá-la. Como gostaria de ter feito isso, e mais, como se arrependia de  ter deixado que ela partisse.
Quando chegou ao seu quarto, Ana retirou os sapatos, segurou o celular e, em sua playlist procurou uma música que há muito não ouvia - Only Time- Enya.  Aumentou o volume, jogou-se na cama em sua frente e, de bruços, permitiu que as lágrimas fluíssem como um rio...
Ela havia se segurado durante horas naquele dia, enquanto caminhava na rua retornando ao hotel, tentou ao máximo conter-se, embora o líquido insistente da dor continuasse a cair, ainda que timidamente.
Agora podia libertar-se, chorar sem que ninguém a interrompesse, preocupado, ou criticando sua fraqueza. Durante sete longos anos ela escondeu suas lágrimas das pessoas. Não queria chorar, o símbolo da fragilidade que ela recusava demonstrar, era o choro.
Marcos, entrou em casa ainda meio atordoado. Jurava que havia sido um sonho. Ela estava tão linda - pensava. “Como a cor dos cabelos realçava sua pele, como suas curvas se destacavam sob o vestido colorido de verão”. Aquela noite quente marcou o encontro mais emocionante de sua vida. Ana havia sido a única mulher que Marcos verdadeiramente, porém de modo covarde, amou.
E agora todo aquele sentimento parecia brotar como plantas bem regadas, que despontam ao amanhecer. Ele ainda a amava, mas ela certamente teria alguém ao seu lado. Sempre fora linda e com o ar maduro que o tempo lhe fornecera, estava deslumbrante.  Com os pensamentos desordenados, entrou no chuveiro, a água estava fria, adequada para a noite ardente que fazia. Uma canção tocava no seu Home, Enya – Only Time.
As gotas frias caíam em seu rosto e lágrimas de arrependimento e de um amor adormecido juntavam –se às gotículas do líquido restaurador.
Na banheira do hotel, uma jovem mulher, com o coração ferido e dominado pela dor chorava, silenciosamente, derramava-se.
Em meio ao silêncio, o telefone do quarto de Ana, no único hotel da pequena cidade, tocou...