sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O Terror do Primeiro Amor



São 22h38, faz um pouco de frio, estou de pijama - um shot doll vermelho com corações pretos-, parece até uma coisa meio romântica, não é? Isso é somente para combinar com a coletânea de músicas internacionais  melosas, dos anos 80, que estão tocando no meu notebook. 

Estava aqui pensando em como eu sempre fui estudiosa, sonhadora e louca para vencer na vida. Confesso que já fui mais idealizadora, atualmente eu estou tão "pé no chão" que assusta. Ouvindo essas músicas antigas eu acabei recordando das muitas madrugadas que eu passava em claro, ouvindo o rádio e escrevendo coisas de amor. Pois é, coisas de amor, o pijama não é apenas uma sugestão de romantismo, eu de fato sempre fui muito romântica e sempre me dei muito mal com isso. 

Minha primeira experiência amorosa foi um terror! 

Aos nove anos de idade eu pensei estar apaixonada, ele era um garoto recém-chegado na escola, branquinho, de olhos claros, magro, bonito, ao menos eu acho que era; pelo que lembro eu só gostava de meninos bonitos. Isso não era uma coisa muito legal, pois eu não era popular e o meu padrão de beleza nunca fez o estilo líder de torcida de escola norte-americana. 
Ele chegou na escola em uma tarde quente, eu lembro que lá fazia muito calor, as chuvas eram muito fortes naquela época, era um verão intenso do ano 2000. Eu era tímida, sempre estava calada e escondendo - me de tudo e de todos. Eu tinha duas primas,uma delas  estudava comigo, a
outra fazia raiva apenas e cursava uma série a menos que nós. Sempre fui calada, como já falei , porém na escola havia um destaque e eram as minhas notas. Muito superiores a todas as notas dos demais  alunos, por isso eu era odiada por toda a parentela e outros coleguinhas. O nome do garoto era Gilberto, ele passou por mim, naquele primeiro dia, com seu cabelo comprido estilo Nick Carter, eu olhei discretamente, na infância eu sabia o que era olhar sem dar na cara que estava olhando. Foi uma falsa paixão aguda. Sentado em sua cadeira, com uma camiseta preta e uma bermuda jeans, ele chamou a atenção de todas as garotas. Minha prima foi a primeira a se manifestar no dia seguinte, disse que estava apaixonada por ele, logo, isso significava " marquei o território, saiam de cima, suas feias"; tenho que admitir que minha prima era bonitinha, embora quase não tivesse cabelos e atendesse pelo nome de Agripina Maria. Por favor, nenhuma Agripina Maria sinta-se ofendida pela colocação, o fato é que nós, eu e o restante das garotas lá na escola  não conhecíamos ninguém que fosse criança e tivesse esse nome. Mas aprendi a gostar dessa denominação quando me tornei adulta. Colocaria com prazer este nome na minha filha imaginária, se ela não atendesse, desde sempre, por Maria Valentina. 
Bom, os dias passaram, minha prima chegou a fazer algumas investidas, mas o menino não estava a fim de ninguém. Ele ficou na escola por uns dois meses e foi o tempo que durou minha paixonite e o amor eterno da minha querida Agripina Maria. Dias antes dele ir embora, as garotas estavam reunidas no pátio e eu também me juntei ao grupo. O papo era sobre quem amava quem. Todas revelaram seus segredos bem ali, sem nenhuma timidez. Eu, muito pelo contrário, estava intimidada. Como dizer a todas aquelas meninas com seus amores platônicos bem resolvidos que, eu estava gostando do pretendente da minha prima? Se eu nem era páreo para ela? 

Encurralada, falei que estava gostando do irmão dele. Detalhe: eu nunca tinha visto o menino, só sabia de sua existência porque minhas primas tentaram descobrir tudo sobre o Gilberto e sua família. E nós sabemos que quando uma mulher quer descobrir algo sobre um cara, ela consegue!  Semanas depois, ele foi embora e eu fiquei com aquela saudade doída, mas com alguns dias tudo passou. E assim eu aprendi que tudo passa. 

Pois é, ele não foi o meu primeiro amor e, nem podia ser. Foi um sentimento tão clandestino.