terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Não quero dinheiro, eu só quero um livro."

Há um ano escrevi isso!

Decidi compartilhar com vocês. Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida!

Esta semana em Garanhuns


Aqueles dias em que você sai à rua, não sabe bem com qual intuito, mas sai. Anda um pouco, olha vitrines, observa à água caindo na fonte da praça central; ainda ouve buzinas dos carros encara o semáforo com certa inquietude.   Percebe toda à correria de uma cidade, pessoas indo e vindo, semblantes preocupados. Do nada você olha pra alguém, e em poucos minutos, se pega pensado sobre o que ele teria comido no almoço, ou por que se veste daquele jeito, enfim, sua mente dá voltas e voltas; então você nota que está lendo romances demasiadamente.
 Hoje, pelas ruas da cidade, me peguei fazendo observações inusitadas, analisei perfis de pessoas na multidão, andei, pensando em cada detalhe da rua, percebi cores nas ruas, nos ônibus, nos cabelos das pessoas, e, isso me pareceu estranho. Resolvi dar uma passadinha em uma loja, só pra olhar os livros e, quem sabe, levar um novo exemplar; eu só não contava com a situação inacreditável que me ocorreria.
Enquanto olhava os títulos no suporte, vi um ser magro e de cor parda tocando  meu braço com certa urgência. Eu parei o que fazia e olhei para ela, era uma menina bonita, cabelos castanhos presos, usava um conjunto azul, uma sapatilha rosa, tinhas unhas sujas, escuras, um ar tão inocente que chegava a doer. Disse-me: - moça, moça, por favor, você compra um livro pra mim?

Fiquei imóvel, pensei não ter ouvido o pedido daquele anjo, até por que a mesma tinha uma falha na dicção. Então a indaguei: -Um livro, foi isso o que pediu? - Sim. -Respondeu ela convicta em seu pedido.

Ainda estática, me veio à mente: " ela poderia ter pedido dinheiro, uma boneca, um chocolate, ou qualquer outra coisas, porém, ela pediu um livro. Ela não devia ter mais que oito anos. Olhei-a com ternura e pedi que aguardasse um pouco, enquanto eu providenciava seu livro. Minuciosamente procurei algo atrativo para uma criança, encontrei, então um de histórias em quadrinhos. Dirigi-me ao caixa, ela me seguia com os olhinhos ansiosos. Esperei alguns minutos na fila do caixa, nesse meio tempo, pude ouvir sua mãe aos gritos: - Maria Eduarda, venha logo! Vamos perder o ônibus.

Não pude ver seu rosto, apenas, ouvi a pequena gritar: - Mamãe, já vou! A moça tá comprando um livro pra mim!! A mãe ignorou à resposta da criança e continuou chamando-a. Ao meu lado, a pequena Maria Eduarda, tinha olhos grandes que observavam cada detalhe, peguei um chocolate sem que ela percebesse, e adicionei à compra. Ao terminar o atendimento, entreguei-lhe o pacote. Com um sorriso comprido e com algumas janelinhas, ela me agradeceu. Pude ver o rosto de sua mãe quando a vi sair correndo em direção ao ponto de ônibus. A mãe me olhou e agradeceu. Parecia feliz com o pequeno mimo.  Saí de lá emocionada. Tantas crianças passando fome, frio, com necessidades tão imediatas, realidades tão duras; elas querem alimento ou quem sabe um teto. Mas a pequena Maria Eduarda poderia ter muitas necessidades, entretanto, seu maior desejo era apenas um livro.  Como seria o Brasil se todas as crianças só precisassem de um livro, quisessem apenas um livro, pedissem apenas um livro?




Como me apaixonei pela leitura



Era uma manhã, não recordo o dia da semana, eu havia assistido um desenho animado e por passar muito tempo na frente da TV, minha mãe ficou brava comigo por não ajudá-la nos afazeres domésticos e deu-me uma bronca daquelas.

Eu precisava fazer algo, mas não tinha coragem para nada e também não queria parar de ver os desenhos; logo, me passou pela cabeça a seguinte ideia: Vou limpar à estante, pois assim posso ver TV e trabalhar ao mesmo tempo.

Comecei retirando alguns itens para espanar o pó, fui retirando, retirando, até que abri uma das portas, e lá estava uma quantidade significativa de livros. Como meus irmãos estudavam boa parte era deles.
Eu, no auge dos meus dez anos, cursando à quinta série, limitava-me a responder os exercícios e fazer os trabalhos solicitados pelos professores. Era uma boa garota, mas a leitura ainda não havia sorrido para mim.

Após eliminar o pó, dediquei-me a limpar os objetos que decoravam à estante e os que ficavam dentro dela.
Foi naquele exato momento que deparei- me com algo inesperado e que me fez voltar no tempo, longos  meses antes.

Enquanto aguardávamos  a chegada do caminhão  pau de arara que nos levaria ao colégio na cidade, pois morávamos na zona rural do município de Caetés; eu e meus irmãos avistamos uma figura simpática, de cabelos tingidos de preto, mas com as sobras brancas, um rosto amigável, com um enorme bigode (também tingido) e um guarda- chuva tão grande que eu o apelidei  de antena parabólica. Aproximou- se  de nós, em especial de mim,  com um sorriso nos lábios, era o meu ex-professor.  

Ele tinha substituído à minha professora na quarta série e para ser bem sincera, eu adorei, porque com ele cantávamos o Hino Nacional todos dias e com ele aprendi a fazer operações com divisão,  coisa que parecia impossível, pois  passei toda a terceira série tentando e não consegui. Mas com ele tudo parecia tão fácil, eu amava Matemática (anos depois descobri que fora paixão o meu sentimento da época, pois até o Ensino Médio, Matemática foi a pior disciplina, eu só tirava nota sete, ou no máximo, oito).  Ele me incentivava a fazer tudo e sempre repetia uma frase:  “ QUERO VER VOCÊ NA FACULDADE”.  Eu ficava tão feliz.

Quando chegou perto de nós naquele entardecer, estudávamos à noite, ele dirigiu-se a mim com uma alegria diferente, falou que tinha algo para mim e logo foi mostrando. Eram três livros que ele havia separado, chegara à escola através de um  projeto chamado   “Literatura em minha casa”, trouxe um livro de contos, um de poemas, e  outro, mais espesso, era um romance.  Eu fiquei muito feliz e agradecida, os recebi e guardei junto ao material. Pegamos o caminhão e fomos à cidade.
Ao retornar, à noite, guardei aquele presente na estante e não abri. Não tinha interesse em livros, nunca tinha pensado a respeito deles, ninguém tinha dito para mim que valia a pena ler, que existiam mundos que precisavam ser descobertos por mim.




Naquela manhã, vi aqueles livros e veio à minha mente um flashback, tudo que vivenciei na sala de aula com o meu professor, o dia da entrega dos presentes, enfim, recordações que me fizeram sentir saudades do tempo com ele. 
Dentre os três, um de capa vermelha com título instigante e convidativo me chamou atenção.  Estava escrito em letras chamativas “OS MISERÁVEIS”. Examinei-o cuidadosamente, e pensei: “que título estranho”,  “Do que estará falando?”
Ao abri-lo eu me perdi... Li uma página, duas, três, quatro e crescia uma vontade de ler mais e mais. Então percebi que levaria mais broncas, por isso decidi guardá-lo para ler mais tarde. Foi o que fiz. Continuei meus afazeres, e  mais tarde mergulhei no universo de Jean Valjean ( ha ha ha ) nunca mais parei de ler.
Hoje, meu maior desejo é encontrar aquele professor magnífico, aquele que lembrou de mim,  mesmo não sendo mais sua aluna.
Ele me presenteou e mudou minha vida, eu só queria agradecer e dizer que a primeira pessoa de quem lembrei quando meu nome saiu no listão da faculdade foi o dele. E sua frase nunca me saiu da cabeça.
O gesto daquele professor apaixonante, um senhor de idade avançada e coração de criança,  me fez ser a profissional que sou hoje. Incentivo os meus alunos e lembro  de como ele me incentivava. Faço questão de usar com os meus alunos a mesma frase que ele usava comigo “QUERO VER VOCÊ NA FACULDADE”, quando a utilizo, fecho os olhos e vejo o sorriso do meu professor pronunciando-a para mim. Um sorriso me vem aos lábios e eu percebo que estou no caminho certo.

Comenta aí! Como você se apaixonou pela leitura? Alguém lhe motivou?