Era uma manhã, não recordo o
dia da semana, eu havia assistido um desenho animado e por passar muito tempo
na frente da TV, minha mãe ficou brava comigo por não ajudá-la nos afazeres
domésticos e deu-me uma bronca daquelas.
Eu precisava fazer algo, mas
não tinha coragem para nada e também não queria parar de ver os desenhos; logo,
me passou pela cabeça a seguinte ideia: Vou limpar à estante, pois assim posso
ver TV e trabalhar ao mesmo tempo.
Comecei retirando alguns
itens para espanar o pó, fui retirando, retirando, até que abri uma das portas,
e lá estava uma quantidade significativa de livros. Como meus irmãos estudavam boa
parte era deles.
Eu, no auge dos meus dez
anos, cursando à quinta série, limitava-me a responder os exercícios e fazer os
trabalhos solicitados pelos professores. Era uma boa garota, mas a leitura
ainda não havia sorrido para mim.
Após eliminar o pó,
dediquei-me a limpar os objetos que decoravam à estante e os que ficavam dentro
dela.
Foi naquele exato momento
que deparei- me com algo inesperado e que me fez voltar no tempo, longos meses antes.
Enquanto aguardávamos a chegada do caminhão pau de arara que nos levaria ao colégio na
cidade, pois morávamos na zona rural do município de Caetés; eu e meus irmãos
avistamos uma figura simpática, de cabelos tingidos de preto, mas com as sobras
brancas, um rosto amigável, com um enorme bigode (também tingido) e um guarda-
chuva tão grande que eu o apelidei de
antena parabólica. Aproximou- se de nós,
em especial de mim, com um sorriso nos
lábios, era o meu ex-professor.
Ele tinha substituído à minha professora na quarta série e para ser bem sincera, eu adorei, porque com ele cantávamos o Hino Nacional todos dias e com ele aprendi a fazer operações com divisão, coisa que parecia impossível, pois passei toda a terceira série tentando e não consegui. Mas com ele tudo parecia tão fácil, eu amava Matemática (anos depois descobri que fora paixão o meu sentimento da época, pois até o Ensino Médio, Matemática foi a pior disciplina, eu só tirava nota sete, ou no máximo, oito). Ele me incentivava a fazer tudo e sempre repetia uma frase: “ QUERO VER VOCÊ NA FACULDADE”. Eu ficava tão feliz.
Ele tinha substituído à minha professora na quarta série e para ser bem sincera, eu adorei, porque com ele cantávamos o Hino Nacional todos dias e com ele aprendi a fazer operações com divisão, coisa que parecia impossível, pois passei toda a terceira série tentando e não consegui. Mas com ele tudo parecia tão fácil, eu amava Matemática (anos depois descobri que fora paixão o meu sentimento da época, pois até o Ensino Médio, Matemática foi a pior disciplina, eu só tirava nota sete, ou no máximo, oito). Ele me incentivava a fazer tudo e sempre repetia uma frase: “ QUERO VER VOCÊ NA FACULDADE”. Eu ficava tão feliz.
Quando chegou perto de nós
naquele entardecer, estudávamos à noite, ele dirigiu-se a mim com uma alegria
diferente, falou que tinha algo para mim e logo foi mostrando. Eram três livros
que ele havia separado, chegara à escola através de um projeto chamado “Literatura
em minha casa”, trouxe um livro de contos, um de poemas, e outro, mais espesso, era um romance. Eu fiquei muito feliz e agradecida, os recebi
e guardei junto ao material. Pegamos o caminhão e fomos à cidade.
Ao retornar, à noite, guardei
aquele presente na estante e não abri. Não tinha interesse em livros, nunca
tinha pensado a respeito deles, ninguém tinha dito para mim que valia a pena
ler, que existiam mundos que precisavam ser descobertos por mim.
Naquela manhã, vi aqueles livros
e veio à minha mente um flashback, tudo que vivenciei na sala de aula com o meu
professor, o dia da entrega dos presentes, enfim, recordações que me fizeram
sentir saudades do tempo com ele.
Dentre os três, um de capa
vermelha com título instigante e convidativo me chamou atenção. Estava escrito em letras chamativas “OS
MISERÁVEIS”. Examinei-o cuidadosamente, e pensei: “que título estranho”, “Do que estará falando?”
Ao abri-lo eu me perdi... Li
uma página, duas, três, quatro e crescia uma vontade de ler mais e mais. Então
percebi que levaria mais broncas, por isso decidi guardá-lo para ler mais
tarde. Foi o que fiz. Continuei meus afazeres, e mais tarde mergulhei no universo de Jean
Valjean ( ha ha ha ) nunca mais parei de ler.
Hoje, meu maior desejo é
encontrar aquele professor magnífico, aquele que lembrou de mim, mesmo não sendo mais sua aluna.
Ele me presenteou e mudou
minha vida, eu só queria agradecer e dizer que a primeira pessoa de quem
lembrei quando meu nome saiu no listão da faculdade foi o dele. E sua frase
nunca me saiu da cabeça.
O gesto daquele professor
apaixonante, um senhor de idade avançada e coração de criança, me fez ser a profissional que sou hoje. Incentivo
os meus alunos e lembro de como ele me
incentivava. Faço questão de usar com os meus alunos a mesma frase que ele usava
comigo “QUERO VER VOCÊ NA FACULDADE”, quando a utilizo, fecho os olhos e vejo o
sorriso do meu professor pronunciando-a para mim. Um sorriso me vem aos lábios
e eu percebo que estou no caminho certo.
Comenta aí! Como você se apaixonou
pela leitura? Alguém lhe motivou?
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