terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Como me apaixonei pela leitura



Era uma manhã, não recordo o dia da semana, eu havia assistido um desenho animado e por passar muito tempo na frente da TV, minha mãe ficou brava comigo por não ajudá-la nos afazeres domésticos e deu-me uma bronca daquelas.

Eu precisava fazer algo, mas não tinha coragem para nada e também não queria parar de ver os desenhos; logo, me passou pela cabeça a seguinte ideia: Vou limpar à estante, pois assim posso ver TV e trabalhar ao mesmo tempo.

Comecei retirando alguns itens para espanar o pó, fui retirando, retirando, até que abri uma das portas, e lá estava uma quantidade significativa de livros. Como meus irmãos estudavam boa parte era deles.
Eu, no auge dos meus dez anos, cursando à quinta série, limitava-me a responder os exercícios e fazer os trabalhos solicitados pelos professores. Era uma boa garota, mas a leitura ainda não havia sorrido para mim.

Após eliminar o pó, dediquei-me a limpar os objetos que decoravam à estante e os que ficavam dentro dela.
Foi naquele exato momento que deparei- me com algo inesperado e que me fez voltar no tempo, longos  meses antes.

Enquanto aguardávamos  a chegada do caminhão  pau de arara que nos levaria ao colégio na cidade, pois morávamos na zona rural do município de Caetés; eu e meus irmãos avistamos uma figura simpática, de cabelos tingidos de preto, mas com as sobras brancas, um rosto amigável, com um enorme bigode (também tingido) e um guarda- chuva tão grande que eu o apelidei  de antena parabólica. Aproximou- se  de nós, em especial de mim,  com um sorriso nos lábios, era o meu ex-professor.  

Ele tinha substituído à minha professora na quarta série e para ser bem sincera, eu adorei, porque com ele cantávamos o Hino Nacional todos dias e com ele aprendi a fazer operações com divisão,  coisa que parecia impossível, pois  passei toda a terceira série tentando e não consegui. Mas com ele tudo parecia tão fácil, eu amava Matemática (anos depois descobri que fora paixão o meu sentimento da época, pois até o Ensino Médio, Matemática foi a pior disciplina, eu só tirava nota sete, ou no máximo, oito).  Ele me incentivava a fazer tudo e sempre repetia uma frase:  “ QUERO VER VOCÊ NA FACULDADE”.  Eu ficava tão feliz.

Quando chegou perto de nós naquele entardecer, estudávamos à noite, ele dirigiu-se a mim com uma alegria diferente, falou que tinha algo para mim e logo foi mostrando. Eram três livros que ele havia separado, chegara à escola através de um  projeto chamado   “Literatura em minha casa”, trouxe um livro de contos, um de poemas, e  outro, mais espesso, era um romance.  Eu fiquei muito feliz e agradecida, os recebi e guardei junto ao material. Pegamos o caminhão e fomos à cidade.
Ao retornar, à noite, guardei aquele presente na estante e não abri. Não tinha interesse em livros, nunca tinha pensado a respeito deles, ninguém tinha dito para mim que valia a pena ler, que existiam mundos que precisavam ser descobertos por mim.




Naquela manhã, vi aqueles livros e veio à minha mente um flashback, tudo que vivenciei na sala de aula com o meu professor, o dia da entrega dos presentes, enfim, recordações que me fizeram sentir saudades do tempo com ele. 
Dentre os três, um de capa vermelha com título instigante e convidativo me chamou atenção.  Estava escrito em letras chamativas “OS MISERÁVEIS”. Examinei-o cuidadosamente, e pensei: “que título estranho”,  “Do que estará falando?”
Ao abri-lo eu me perdi... Li uma página, duas, três, quatro e crescia uma vontade de ler mais e mais. Então percebi que levaria mais broncas, por isso decidi guardá-lo para ler mais tarde. Foi o que fiz. Continuei meus afazeres, e  mais tarde mergulhei no universo de Jean Valjean ( ha ha ha ) nunca mais parei de ler.
Hoje, meu maior desejo é encontrar aquele professor magnífico, aquele que lembrou de mim,  mesmo não sendo mais sua aluna.
Ele me presenteou e mudou minha vida, eu só queria agradecer e dizer que a primeira pessoa de quem lembrei quando meu nome saiu no listão da faculdade foi o dele. E sua frase nunca me saiu da cabeça.
O gesto daquele professor apaixonante, um senhor de idade avançada e coração de criança,  me fez ser a profissional que sou hoje. Incentivo os meus alunos e lembro  de como ele me incentivava. Faço questão de usar com os meus alunos a mesma frase que ele usava comigo “QUERO VER VOCÊ NA FACULDADE”, quando a utilizo, fecho os olhos e vejo o sorriso do meu professor pronunciando-a para mim. Um sorriso me vem aos lábios e eu percebo que estou no caminho certo.

Comenta aí! Como você se apaixonou pela leitura? Alguém lhe motivou?


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