terça-feira, 31 de janeiro de 2017

PROJETO Minhas Memórias




A Escola Municipal João Alexandre da Silva  conta com um corpo discente bastante dedicado. O mesmo é record em frequência e, em se tratando de participação em atividades extracurriculares, sempre apresenta excelente desempenho.
Realizamos diversas atividades durante o ano de 2016 e ao longo do tempo irei divulgar aqui, algumas delas.

PROJETO MINHAS MEMÓRIAS

O projeto  foi pautado no ensino do gênero textual "Memórias Literárias" voltado à turma do 7° ano e tinha como principal objetivo, compreender a função social e a estrutura do gênero, podendo  assim, produzi-lo adequadamente.
A fim de chegar a tais metas, utilizamos diversos materiais.
Trabalhamos especialmente com a leitura de textos, pois acredito piamente que para se produzir um texto obedecendo corretamente os meios de produção, é fundamental, ler.
Como prática que envolvesse a escola e a comunidade a proposta foi a seguinte:

  • - Os estudantes reunidos em grupos de 4 pessoas deveriam reunir objetos antigos de valor sentimental para os anciãos da comunidade.


  • - Munidos do material eles deveriam escrever  um relatório contendo as informações sobre os objetos e seus respectivos donos.


*O interessante é que esta foi a parte mais complexa do projeto, pois muitos idosos não queriam o afastamento de determinados itens.

  • - O material deveria ser encaminhado  à escola para uma tarde de exposição, na qual os estudantes receberiam as demais turmas, bem como, membros da comunidade em geral: pais e outros visitantes.


  • - Cada grupo ficaria organizado em determinado local da sala a fim de expôr e explicar detalhes sobre os objetos e o valor sentimental que cada um trazia para seus donos.


  • - Ao final os estudantes deveriam escrever um pequeno texto que explicasse o que sentiram ao manterem contato com o público que  os visitou.


* Momento mais emocionante para mim, pois a expressão sincera deles, e a alegria promovida pelo evento me fez perceber que estava no caminho certo.

  • - Encerrando a atividade de exposição, o projeto seguiu com  análises  das peculiaridades do gênero, escrita, revisão e nova escrita para que se pudesse atingir a meta principal do estudo do gênero textual em questão.


Foi um sucesso! 

Quem desejar detalhes, ou o projeto em si, pode entrar em contato comigo.



















sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O Terror do Primeiro Amor



São 22h38, faz um pouco de frio, estou de pijama - um shot doll vermelho com corações pretos-, parece até uma coisa meio romântica, não é? Isso é somente para combinar com a coletânea de músicas internacionais  melosas, dos anos 80, que estão tocando no meu notebook. 

Estava aqui pensando em como eu sempre fui estudiosa, sonhadora e louca para vencer na vida. Confesso que já fui mais idealizadora, atualmente eu estou tão "pé no chão" que assusta. Ouvindo essas músicas antigas eu acabei recordando das muitas madrugadas que eu passava em claro, ouvindo o rádio e escrevendo coisas de amor. Pois é, coisas de amor, o pijama não é apenas uma sugestão de romantismo, eu de fato sempre fui muito romântica e sempre me dei muito mal com isso. 

Minha primeira experiência amorosa foi um terror! 

Aos nove anos de idade eu pensei estar apaixonada, ele era um garoto recém-chegado na escola, branquinho, de olhos claros, magro, bonito, ao menos eu acho que era; pelo que lembro eu só gostava de meninos bonitos. Isso não era uma coisa muito legal, pois eu não era popular e o meu padrão de beleza nunca fez o estilo líder de torcida de escola norte-americana. 
Ele chegou na escola em uma tarde quente, eu lembro que lá fazia muito calor, as chuvas eram muito fortes naquela época, era um verão intenso do ano 2000. Eu era tímida, sempre estava calada e escondendo - me de tudo e de todos. Eu tinha duas primas,uma delas  estudava comigo, a
outra fazia raiva apenas e cursava uma série a menos que nós. Sempre fui calada, como já falei , porém na escola havia um destaque e eram as minhas notas. Muito superiores a todas as notas dos demais  alunos, por isso eu era odiada por toda a parentela e outros coleguinhas. O nome do garoto era Gilberto, ele passou por mim, naquele primeiro dia, com seu cabelo comprido estilo Nick Carter, eu olhei discretamente, na infância eu sabia o que era olhar sem dar na cara que estava olhando. Foi uma falsa paixão aguda. Sentado em sua cadeira, com uma camiseta preta e uma bermuda jeans, ele chamou a atenção de todas as garotas. Minha prima foi a primeira a se manifestar no dia seguinte, disse que estava apaixonada por ele, logo, isso significava " marquei o território, saiam de cima, suas feias"; tenho que admitir que minha prima era bonitinha, embora quase não tivesse cabelos e atendesse pelo nome de Agripina Maria. Por favor, nenhuma Agripina Maria sinta-se ofendida pela colocação, o fato é que nós, eu e o restante das garotas lá na escola  não conhecíamos ninguém que fosse criança e tivesse esse nome. Mas aprendi a gostar dessa denominação quando me tornei adulta. Colocaria com prazer este nome na minha filha imaginária, se ela não atendesse, desde sempre, por Maria Valentina. 
Bom, os dias passaram, minha prima chegou a fazer algumas investidas, mas o menino não estava a fim de ninguém. Ele ficou na escola por uns dois meses e foi o tempo que durou minha paixonite e o amor eterno da minha querida Agripina Maria. Dias antes dele ir embora, as garotas estavam reunidas no pátio e eu também me juntei ao grupo. O papo era sobre quem amava quem. Todas revelaram seus segredos bem ali, sem nenhuma timidez. Eu, muito pelo contrário, estava intimidada. Como dizer a todas aquelas meninas com seus amores platônicos bem resolvidos que, eu estava gostando do pretendente da minha prima? Se eu nem era páreo para ela? 

Encurralada, falei que estava gostando do irmão dele. Detalhe: eu nunca tinha visto o menino, só sabia de sua existência porque minhas primas tentaram descobrir tudo sobre o Gilberto e sua família. E nós sabemos que quando uma mulher quer descobrir algo sobre um cara, ela consegue!  Semanas depois, ele foi embora e eu fiquei com aquela saudade doída, mas com alguns dias tudo passou. E assim eu aprendi que tudo passa. 

Pois é, ele não foi o meu primeiro amor e, nem podia ser. Foi um sentimento tão clandestino. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Ler ouvindo música? E pode? Conheça 5 sugestões de músicas para ouvir durante a leitura!

Ouvir música durante a leitura ajuda ou atrapalha?♫♪


Há quem diga que o ato de ler exige um momento de silêncio profundo e cômodo, ou seja, é necessário um lugar calmo, confortável e isolado.
Mas será mesmo verdade que essa é a melhor maneira de se conduzir uma leitura?

♬♪

Há controvérsias.  Eu, por exemplo, sempre estudo, ou leio ouvindo algo que vai desde música gospel até os clássicos  da vida, contudo, eu não consigo ler ouvindo Rock isso é fato - nada contra. Eu me concentro fácil, mas ouvir um Rock pesado já não se configura como possível para mim!

♫♪Pensando sobre essa questão, fiz um top de 5  motivos sonoros que considero muito agradáveis para o momento da leitura.
Tudo pode ser facilmente encontrado no YouTube, claro!!♫♪


Começando com a quinta posição, vamos para os instrumentais, recomendo Brooklyn Duo (piano/ cello cover). Eles são apaixonantes, cadência perfeita, e você encontra as mais diversas canções, são muito versáteis! 



Neverending White Lights. Quem aí já  ouviu falar na banda canadense liderada pelo Daniel Victor? A banda já embalou séries como Grey´s Anatomy!! O single Distance é icônico! A banda reúne uma harmonia instrumental  sobrenatural e letrinhas muito profundas.


Qualquer  canção da Kari Jobe. Gente, vocês já ouviram a Kari? Ela é uma cantora do mundo  gospel,  que possui uma voz doce e maravilhosa.  Suas melodias e letras  acalmam tudo, ela transmite uma paz incrível! Sou apaixonada por esta: You Are For Me- kari Jobe



Música Celta, ou Escocesa, gente, quando começamos a ouvir somos levados a uma atmosfera medieval. Se o livro for de aventura, ou algo com seres fantásticos, é melhor ainda! 


O primeiríssimo lugar vai para????😊


  Som da chuva. Sério, não há nada mais prazeroso que criar um clima chuvoso para a leitura,  especialmente se for à noite, é ainda melhor. Pode ser no telhado, na floresta com o som de pássaros, enfim, foi natureza tá valendo! 



Vamos de bônus??♬♪♩

Pois é, não dá para falar em leitura  e não lembrar das mais profundas canções já produzidas por Mozart, Beethoven, Bach, Chopin... enfim, os compositores clássicos sabiam o que faziam, marcaram história e não podem faltar no momento da leitura.

Você gostou das sugestões? Deixe a sua!  Eu vou adorar descobrir o que embala seus momentos de leitura.


Um Simples Olhar





Era final de tarde quando ele chegou,  um americano de nome Richard. Há pouco tempo estava juntando dinheiro para conhecer o Brasil.
Alugou um quarto de hotel e acreditava que ia passar apenas alguns dias, chegando  ao Hotel Casa Blanca,  após o Check-in, o recepcionista chamou uma camareira para que  indicasse o quarto. No momento que Richard olhou para Laura os dois se encantaram, foi difícil disfarçar a química, os corações dispararam, foi amor à primeira vista. O atendente percebendo a paralisia de ambos, perguntou o que ocorreu, eles timidamente  responderam "Nada". Fugindo do protocolo eles se apresentaram e seguiram para o quarto. Nesse trajeto trocaram algumas palavras, pois Richard estava curioso sobre a cidade, o país e especialmente pela linda mulher que acabara de conhecer.  Durante a conversa,  Laura percebe que ele não tem domínio da Língua Portuguesa, e ela lhe oferece aulas, ela não ganharia nada com isso, mas ficaria perto dele e aprenderia um pouco mais de Inglês. Ele aceitou prontamente e  marcaram para o sábado que seria o dia seguinte. 
As horas passaram rápido. O dia se foi e o sábado chegou quente. 
 Ao chegar no quarto, Laura logo o cumprimentou, ele a tomou em seus braços num abraço longo, que  se tornou, de longe,  o melhor de suas vidas. Richard lhe convidou para entrar e começar. Ela falou que sobre sua  graduação em Letras, e prosseguiu falando da Língua Portuguesa e suas  Literaturas. 
Em meio a tantas palavras, Richard não entendeu nada, no entanto, não parava de observá-la e concordar com a cabeça como  se compreendesse. E Laura logo se atrapalha toda, constrangida pela forma como ele a olhava.  Os seus pensamentos vagavam iam de encontro aos olhos dele.
As horas passaram rápido e terminando a aula, Richard a convidou para um lanchinho.
Em meio a tantas conversas, os olhares se cruzavam... Laura não comeu nada, apenas tomou um suco. Como o sábado era de folga, ela apressou-se para poder resolver assuntos pendentes. 
Ele a levou até a porta e com ela ainda fechada, aproximou-se de Laura e tocou-lhe o rosto suavemente. O IPhone dele que  tocava ao fundo um música "Love Me Like You Do", os olhares traçados se continham, mas não controlavam a respiração de ambos,  que denunciava uma taquicardia. Não conseguindo se conter, ele a beijou. Aos 24 anos, foi o primeiro beijo de Laura. Delicado e suave, porém com um fervor de apaixonado.

Separados lentamente, ela ficou constrangida, ele tímido, também ficou envergonhado. Os dois confessam que estão apaixonados, uma paixão louca e repentina, afinal se conheciam há um dia. No entanto, a interação entre eles parecia denotar anos de intimidade. No momento do segundo beijo, Laura saiu correndo. Richard desesperado saiu correndo atrás dela, mas já era tarde.
Dias passaram sem que se vissem. Laura o estava evitando. 
Richard a encontrou no corredor e perguntou o porquê da fuga.  Ela parecia outra pessoa, triste, mandou que  ele fosse embora, afirmando não querer nada,  não haveria nada entre os dois.  Triste, ele foi saindo em direção ao elevador, mas ainda pôde ouvir um dos funcionários de alta patente esbravejando com ela por vê-la conversando intimamente com um hóspede. Era contra a política do hotel.
Richard, sem que ninguém percebesse  seguiu os dois, Laura tentava retomar suas atividades e o funcionário a seguia; quando eles entraram em um dos quartos vazios, Richard ficou atrás da porta. E, de onde estava ouviu  gritos e o  choro de Laura.  O funcionário que agora gritava ser o gerente, dizia estar apaixonado por ela e forçava-a  contra a parede.  Atordoado ele ouvia Laura gritar que jamais gostaria dele, pois sim, estava apixonada pelo hóspede. Ao ouvir o gerente falar que bateria nela, Richard entrou na sala, e começou uma verdadeira batalha, no entanto, como ele sempre fora pacífico e nunca se envolvera em brigas, ali dentro o gerente deixou Richard inconsciente, não se importando com as consequências e saiu.

Laura desesperada correu ao chão, tomou  seu corpo nos braços chorou descontroladamente pedindo que ele acordasse. Alguns minutos depois ele acordou atordoado. Tentando levantar para procurar o gerente, ele não conseguiu pois estava muito ferido. Então ele perguntou o que ocorria na vida dela, por que ela suportava aquilo. Ela lhe explicou que o gerente não deixa ela namorar ninguém, mas como precisava do trabalho ela continuava lá. E ali,  sentados, Laura decidiu  contar tudo desde o início: Era de manhã quando ela chegou à cidade, sentindo-se apaixonada por aquele local ela então optou por ficar, e procurar emprego, porém tudo era difícil, não tinha vagas e a cada dia estava ficando mais e mais difícil manter-se com o pouco dinheiro que lhe restava.  Ela então chegou ao Casa Blanca, procurou o  gerente, sofisticado, rico e malicioso de nome Guilherme e ele disse que não havia vagas, mas, com um olhar repleto de perversão disse que abriria uma exceção.  Desde então, ela passou a trabalhar. Vez por outra ele gritava, ou a agarrava às escondidas e batia muitas vezes.  Ela tentava se esquivar, conseguia, mas nem sempre. 
    Ao ouvir aquilo tudo, Richard tomou um choque, e ficou focado em colocar Guilherme na cadeia, Laura não aceitava a ideia afirmando que ele  poderia  matar aos dois. Mas Richard queria enfrentar, e ao se recuperar ao ponto de conseguir andar, ele foi à delegacia com Laura que,  imediatamente, contou tudo. A partir dali o delegado falou que iria expedir um mandado de busca e apreensão no hotel na parte da noite.
    Às vinte  horas,  uma equipe de policias foi ao hotel e se depararam com Guilherme fugindo, ele havia sequeatraso Laura enquanto o Richad tomava banho. Ela estava presa ao carro e começou uma perseguição silenciosa. Richard foi procurar Laura após o banho e ficou sabendo do ocorrido. Depressa ele pediu a um dos camareiros para sair com ele, pois não conhecia a cidade. A polícia e Richard chegaram à casa de Guilherme que pretendia pegar sua documentação e fugir levando Laura. Enquanto ele entra na casa, Richard corre ao carro, quebra o vidro e resgata Laura. Não demora muito e Guilherme volta trazendo nas mãos uma pistola que aponta para  a moça. Richard imediatamente tenta negociar com ele, mas inutilmente, ele quer matá-la. A polícia procura negociar com ele e de repente um tiro corta a distância entre os dois. Laura é ferida no ombro esquerdo e cai lentamente. No mesmo instante policiais efetuam vários disparos e Guilherme cai no chão, já sem vida. 
Rapidamente Laura é levada ao hospital. Seu estado é delicado, pois a bala que rompeu uma artéria vital. 
Após algumas cirurgias, e dias no hospital, Laura recupera-se. Richard a pediu em casamento, ela prontamente aceitou e foram morar nos Estados Unidos, onde a felicidade os cobria e em poucos meses surgiu  uma semente dl amor, a filha do casal a quem deram o nome de Joana.


Autor: Meu doce aluno Ricardo Santana.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Amanhã é 23






Amanhã é 23, sim, 23 de janeiro de 2017. O tempo, carrasco dos que esperam, é igualmente cruel quando se encarrega de levar consigo tudo aquilo que mais almejamos. 
São 22 horas, estou no meu quarto, desde o dia 1 que eu planejava fazer minha lista de  objetivos para ano novo, mas não consigo fazer nada. Estou bloqueada para sonhos e escritas. Estou desnorteada desde o dia que ele entrou em contato comigo dizendo que passaria suas férias em minha cidade. Estou namorando, ele não deveria ter me falado. Não sabia quais eram seus planos e perdi todos os meus a partir daquele som de notificação que indicava a sua chegada iminente. 
O Thomas e eu nos conhecemos há 6 anos atrás. Morando no interior, eu saí de casa para tentar a vida na cidade; meus sonhos? Ser independente, morar sozinha, ter meu próprio dinheiro, fazer faculdade... ser feliz.  Tive que me habituar a muitas coisas, consegui um emprego de balconista do restaurante do Joel, ele tornou- se uma espécie de pai para mim. 
Era 2009 quando comecei meus serviços no "Coma" do Joel, esforçada, eu dava o meu melhor, era constantemente humilhada por clientes e colegas de trabalho que, pareciam não suportar a minha presença. Eu não era uma garota má, era tão determinada e focada no serviço que não perdia tempo com conversinhas ou qualquer problema. No grupo de colegas havia duas garotas que eram legais comigo, haviam iniciado no trabalho um mês após mim; Paula e Alice, duas loucas, muito divertidas, que me ensiram muito.
2010 chegou, eu estava namorando um cara que conheci numa noite de folga.  Alice estava solteira e reclamando que não conseguia ninguém, Paula estava noiva e, de todas nós, era a mais bem- sucedida do grupo. Ela, como boa amiga, resolveu dar um jeito naquela situação da Alie. 
Seu primo Thomas, havia chegado a cidade e estava solteiro, logo, seria uma ótima opção para a Alie que não parava de reclamar da sua condição civil. 
Durante uma tarde de verão, ele entrou no restaurante e foi alegremente cumprimentado pela prima, que em saiu gritando pela Alice, queria apresentá-la a qualquer custo. 
Ela foi na direção do rapaz.  Como o restaurante estava vazio eu pude contemplar a situação. Ele estava visivelmente constrangido. Era moreno, magro, uma pele litorânea, olhos firmes, pequenos, sorriso fácil e lindo. Eu estava namorando, por isso não ousei chegar muito perto para não correr o risco de confundir as coisas. Mas a Paula gritou:
- Ana, vem conhecer meu primo gato! 
Eu, não mais constrangida que ele, fui em sua direção. 
- Oi, então você é o primo dessa louca?  Falei tentando quebrar o clime pesado. Ele sorriu e respondeu que sim. A ceninha acabou, ele sumiu e eu não ouvi falar dele por longos anos e, francamente, eu nem sequer lembrava de sua existência. 
O tempo passou, eu entrei na faculdade,  a Paula casou-se, a Alice mudou de emprego e tudo parecia bem. Um certo dia de 2012, fui abordada pela Paula que gritava meu nome.

- Ana, oi! Escuta, você lembra do meu primo Thomas? 
-Não sei, acho que não. 
- Claro que lembra, eu o apresentei a Alice. - disse ela bastante segura. 
-Ah, sei. O que tem ele? - perguntei.
-Ele quer seu contato do Facebook. Pode ser? 
- E ele lembra de mim?
Questionei meio descrente. 
-Claro! Pode sim. 
Respondi apressada, pois precisava voltar ao trabalho. E na mesma noite ele puxou papo. Eu estava solteira e fiquei muito animada com o papo intelectual do jovem. 
Passamos a nos falar diariamente. Eu chegava da faculdade e corria ao notebook.  Era prazeroso trocar ideias com alguém tão parecido comigo e tão gato. Quase 3 anos de conversas pelo Facebook. 
Os anos foram passando, certa noite,  ele me ligou pela primeira vez. Aquela voz  me derrubou.  Na segunda visita dele à minha cidade, nos encontramos. Estávamos ansiosos pelo encontro. A cada conversa, cada olhar, nós sentíamos algo diferente. Ele não ficou muito tempo. No retorno dele à sua terra natal ficou bem claro que algo havia mudado, era tanta saudade. Então ele passou a me ligar com mais frequência. Trocávamos suspiros. Os meses foram passando e nos declaramos. Ele estava relutante em admitir o sentimento, mas seus esforços para falar comigo aliados aos  suspiros deixaram claro. 
Passamos a fazer planos, promessas. Mas nunca usamos a frase " eu te amo", embora isso estivesse claro nas atitudes. Os anos passaram e as conversas foram se intensificando, no entanto, algo impedia que déssemos um passo mais profundo. Nossas convicções religiosas e doutrinárias impediam nossa relação. Suspirávamos, parávamos de nos falar, não resistíamos, chorávamos e tudo voltava a ficar como antes. O Ronald surgiu nesse tempo de confusão entre nós dois, que não conseguíamos chegar a um acordo para ficarmos juntos. Nossos pontos divergiam muito. Ronald, muito educado, sensível e apaixonado por mim, conseguiu me conquistar, aceitei assumir um compromisso com ele. O que deveria me afastar do amor que sentia pelo Thomas. Nosso amor impossível não contava sequer com um beijo, ou um toque suave. Nunca nos tocamos. 
Dia 16 de janeiro, 2017 começou com o retorno dele, exatamente nesta data. No primeiro dia já nos vimos. Ele veio com um amigo e juntos, os três, conversamos horas e horas. Volta e meia ele me olhava no fundo dos olhos. Meu coração arrebentava no peito.

Fui para casa morrendo. Sentindo que tudo o que havia acontecido entre nós estava ainda mais vivo. Ao chegar em casa, ele puxou conversa pelo WhatsApp lá decidimos que nos evitaríamos. Não iríamos nos encontrar mais. Acordo firmado. A semana passou rapidamente. Todos os dias ele estava em meus pensamentos. Pedi o sono, chorei, tudo estava fora de controle e ele, fora do meu alcance. 
O dia 22, um domingo de sol, começamos a conversar por volta as 10 da manhã. A cada palavra eu chorava descontroladamente. Ele iria embora no dia seguinte e não nos veríamos mais. Esse era o plano. Na conversa ele me perguntou o que eu faria quando ele partisse. Eu apenas disse " vou ficar noiva e me casar" , ele pareceu ficar de coração partido, porém não mais que o meu. Decidi enviar uma canção, uma que marcou nossa história, em seguida pedi " me fala qualquer coisa quando você ouvir. Qualquer. " Ele disse:  "eu te amei". As minha lágrimas rolaram.
Feridos, decidimos nos ver outra vez, a última vez. Marcamos para às 17 horas. O combinado era: Sairíamos para caminhar, nos olharíamos nos olhos e juntos contemplaríamos o pôr do sol. E este, levaria consigo nossos planos, nossas lágrimas, nosso amor. Ambos seguirímos nossas vidas.

  
Às 17 horas  em ponto, nos encontramos. O Sol já riscava o horizonte com linhas de roxo e azul... Linhas bem definidas surgiam no Céu. 
Caminhamos calmamente, só nós dois. Na trilha havia algumas pedras  favorecendo que sentássemos. Paramos, nos olhamos nos olhos. O vento frio do crepúsculo soprava sobre nós. Nossos corpos tremiam, queria acreditar que era o frio, porém era mais que isso. Estar ao lado dele provocava uma sensação inexplicável. Nosso amor ecoava. Gritava com o vento, reluzia nos relâmpagos que cortavam ao longe no horizonte.  Chorávamos por dentro. O Sol soltou seu último brilho, os raios deixavam uma marca do Grande Artista. Nos olhamos...lembramos da partida do nosso amor junto com ele. Enquanto caía a noite, os nossos olhos flamejantes se tocavam. Eu respirava com dificuldade, enquanto ele me tomava em seus braços apenas com olhar. Pude sentir o toque macio dos seus lábios...
Estou agora deitada, chove um pouco lá fora...janeiro escorre como a água por entre os meus dedos. E eu só consigo lembrar daquele último pôr do sol, daqueles olhos, daquele amor.

Logo cedo fui questionada por uma amiga sobre o que seria o verdadeiro amor. No momento eu não soube responder. Falei qualquer coisa para escapar da situação.  Hoje, enquanto ouço músicas aleatórias porque não posso ouvir as nossas. Estou presa a um universo paralelo e posso definir o amor, ao menos o que sinto: o Amor é uma porta aberta com vista para o pôr do sol, ele contém toda a beleza do sublime crepúsculo da natureza e, assim como o pôr do sol, o Amor é infinito, pois diariamente, e de diversas formas,  ele se renova.
"Amanhã é 23...são oito dias para o fim do mês...faz tanto tempo que eu não te vejo, queria o teu beijo outra vez."

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O Último Pôr do Sol




Madrugada, três horas da manhã. Chovia. Uma chuva oscilante, ora forte, ora suave.
Deitada em sua cama, Laura lembrava.  As lágrimas rolavam quase que no ritmo da chuva. Ela sentia esvair-se a cada gota que escorria do seu rosto. Lembranças. Ela sofria com a marca da lembrança, aquela  que corta a alma dos apaixonados, ensinando-os que a dor é o destino perpétuo de quem ama.
****
Após dias na cidade, Francis, decidiu sair do hotel. Estava hospedado no único que havia na cidade. Era pequeno, porém confortável.
Ele viera a cidade fingindo não saber  bem o que o trouxera, no entanto, bem no fundo ele sabia a razão.
A semana inteira Laura passou sabendo que ele havia chegado. Cidade pequena tem essa característica, as notícias correm e rostos novos, ou antigos moradores são facilmente vistos e publicados no jornal das más línguas.
Perturbada com a ideia de vê-lo, ela torcia para que isso não ocorresse. Não sabia qual seria a reação do seu coração ao ver o único homem que havia tocado-o profundamente.
Francis passara toda a semana fazendo o mesmo, querendo evitá-la. Torcendo para não vê-la. Mas na terceira noite na cidade,  movido pela saudade, sentado ao lado da janela contemplando a Lua,  ouvia  " Me Beija- Sam Alves" a música que embalou todos os planos que fizeram, todos os encontros que tiveram. Uma lágrima solitária corria em seu rosto de contornos firmes, marcados pelas lições que  a vida ensinara.
Sozinha em sua casa, Laura ouvia a  mesma canção, relembrando o seu primeiro beijo.
Na penúltima noite na cidade, ele decidiu tomar coragem e procurou o contato de Laura no aplicativo de conversas. Então enviou um áudio, era a música que embalou o Amor dos dois, seguida de uma mensagem: "Me encontra no lugar de sempre, antes do Pôr do Sol. "
Laura preparava-se para dormir quando ouviu o som de uma notificação. Verificou seu celular, já deitada em sua cama, após um dia exaustivo de atividades laborais. Ela reconheceu o número e levou um choque. Era ele. "O que teria enviado?" - ela se perguntava. Ao ouvir o som da música, seu coração palpitou desesperadamente. Uma lágrima silenciosa rolou em seu rosto. Uma chama ardente queimou em seu peito que, novamente aquecido, voltava a amar.
Laura sempre foi apaixonada pelo seu vizinho, Francis,  o seu primeiro namorado, seu primeiro beijo. As circunstâncias o levaram a sair da cidade terminando bruscamente com a amada. A partida deixou- a incapaz de amar outra vez. No entanto, após quatro anos de dor o Thomy surgiu em sua vida e ela cansada de esperar, rendeu-se às palavras sinceras do rapaz e já  fazia três anos que estavam juntos.
No início da semana, Thomy havia viajado a trabalho e voltaria em poucos dias. Saiu no mesmo dia que Francis retornara à cidade. E, coincidentemente, voltaria no mesmo dia da partida do rival.
Os pensamentos trouxeram uma dose de culpa na jovem. Seus sentimentos agora estavam confusos.
Sem resposta e desesperado por ouvir algo, Francis ligou:
- Alô, Laura?
- Oi, é você...
- Sou eu, Amor! - Falou Francis com voz trêmula.
- Amanhã? -disse Laura com um tom de cúmplice.
- Sim...eu te espero.
- Boa noite. - Ele suspirou.
- Boa noite.
Desconcertados. Ambos desligaram o telefone e suspiraram profundamente. Uma tempestade de flashes caiu sobre os dois. O Amor como fogueira ardente, queimava.
A noite passou voando. O desejo de reencontro despertou a moça que  teria diversos compromissos naquele dia. Ele, por sua vez, estava no hotel e  passou o dia relendo as cartas que trocaram quando namoravam. Ele as guardava cuidadosamente. Cada uma ainda carregava o perfume suave de Laura. Declarações de amor faziam o coração de Francis disparar como o cavalo de um guerreiro que parte para a batalha. Ele a amava e tinha certeza disso.
No trabalho, a jovem tentava disfarçar seu sorriso e o brilho apaixonado no olhar, mas não podia se conter. Todos perguntavam se ela havia falado com o Thomy, pois só isso explicaria tamanha emoção que transbordava. Mas ela apenas continuava a sorrir.
Às 16 horas, Laura saiu do trabalho e correu para casa. Tomou banho rapidamente e escolheu seu vestido azul - o preferido-  pôs um casaco de flores brancas, fazia um frio suave, soltou seus longos cabelos castanhos, ao som de sua música ela perfumou-se e saiu.
Enquanto andava, Francis não podia conter o sorriso. A mulher da sua vida havia concordado em vê-lo outra vez.
Na rua, Laura caminhava, o vento balançava seus cabelos, seu perfume exalava e algumas pessoas a olhavam ao passar.
O local do encontro era na saída da cidade. Na adolescência eles sempre fugiam para se encontrarem lá.
Já não eram adolescentes, mas a sensação era a mesma do primeiro encontro. Ele chegou e de costas esperava por ela. Laura avistou ao longe uma figura de preto. Vestido para o frio, ele olhava o Pôr do Sol.
Laura aproximou-se e com a voz embargada disse:
- Francis?
Ainda de costas ele olhou para o alto e fechou os olhos. Virou-se.
- Amor...
Ela lançou-se  em seus braços, abraçaram-se  por um longo tempo. Ele a apertava contra o peito. A certeza  de que a amava dominava sua mente. Laura estava atordoada, sentir-se  outra vez nos braços do homem que amava, tudo era muito surreal.
Afastaram-se por um minuto...olharam-se nos olhos, os rostos muito próximos permitiam que sentissem a respiração quente tocando a pele. O desejo de beijá-la  dominava Francis, porém o medo o impedia e, por algum tempo afastaram-se.
- Faz tanto tempo. -Disse ela, quebrando o silêncio.
-Sim, faz.
Sentados lado a lado. Iniciaram um diálogo marcado por olhares profundos que denunciavam muito amor.  Francis explicou onde esteve, como era seu trabalho e Laura, em seguida, também explicava detalhes da nova vida.
Não demoraram a tocar no assunto do Thomy. Francis sutilmente perguntou se ela tinha alguém. Laura respondeu que sim. Havia encontrado alguém que a valorizava e amava. Certamente casaria com ele.
- Então eu cheguei tarde? - Ele questionou.
- Não sei. Acredito que nosso tempo passou. Eu sou fiel ao Thomy, para ser sincera, eu nem deveria estar aqui.
Ele apertou suas mãos e disse: - mas é aqui que você está.
- Laura, eu amo você, venha comigo. Vamos viver longe daqui. Teremos uma chance, uma vida nova.
Ao ouvi-lo as lágrimas desceram descontroladamente.
- Não posso. Preciso que saiba de uma coisa; eu amei você, na verdade, eu ainda amo e, possivelmente, você será o único sempre. Porém o Thomy foi meu apoio quando mais precisei.  Ele é honrado, honesto e me ama.  Não posso deixá-lo, não seria honesto da minha parte. - Falou às lágrimas.
- Ah, Meu Amor, como eu cheguei tarde. - Francis, trêmulo, balbuciava as palavras.
- Eu vim, porque precisava te ver, te tocar uma última vez. Despedir-me. Precisava mesmo ser no pôr do sol.
- Laura, eu te amo...
Francis aproximou-se e com a respiração entrecortada, olhou no fundo dos olhos de Laura e a beijou. Rendida, ela entregou-se àquele momento tão sonhado durante tantos anos. O sol debruçando-se  no horizonte testemunhava  o Amor, juntamente com os tons multicoloridos do Céu.
- Pare, eu não posso. - Disse ela, tentando se esquivar dos braços dele. Entretanto, ele a abraçou, olhou-a nos olhos profundamente e disse: - Vem!
-Francis, não posso! Hoje nós vamos assistir ao Pôr do Sol, e quando ele deitar sobre o horizonte, levará consigo todo esse Amor que sentimos. Ele levará nossos planos, suspiros e lágrimas,  -fez uma pausa- você voltará à sua vida e eu também voltarei.  Sempre lembraremos um do outro, como aquele Amor que se pode sentir, mas não se pode viver. Eu sempre serei sua. E você será meu. Mas não ficaremos juntos.
-Curvando o olhar, Laura chorava.
- É loucura. Somos loucos, fugimos do Amor que foi destinado a nós. Eu sempre vou te amar. Mas eu posso respeitar, entender. Afinal, eu quero que você seja feliz, ainda que não seja ao meu lado.
- Então sente-se ao meu lado. Vamos assistir ao Pôr do Sol. - Ela falou suavemente.
Ele assentou-se ao seu lado, sobre a pedra que havia embaixo da árvore onde haviam marcado suas iniciais, na saída da cidade.
- Okay. -Respondeu.
E enquanto o Céu se pintava com as cores do crepúsculo, o Sol levava consigo uma História de Amor, que jamais seria esquecida.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Sete Anos Depois- continuação...






O telefone tocando, Ana pensou em levantar, mas ainda presa à banheira começou a recordar...

****

A despeito de tudo que temos, da vida que escolhemos, dos planos que fizemos, eu me sinto perdida. 

Sonhei durante tantos anos com uma casinha pequena, um cãozinho, um jardim com umas poucas rosas e jasmins; eu indo trabalhar, ele também, um beijo de despedida.

Sentados no nosso banquinho na praça central, sob a luz da Lua, sonhávamos. Ele sempre apertava o meu rosto contra o seu peito. Eu me sentia muito segura, protegida.  Esse universo de sonhos, perfeito, nosso paraíso particular, era o que nos libertava de nossas vidas tão desestruturadas. Ele, fugia do seu pai agressivo, eu, da minha mãe alcoólatra.
Brigas e mais brigas em casa. Nossos encontros eram muitas vezes regados por lágrimas de ambos. Mas o nosso Amor parecia capaz de vencer tudo. 

Até que, pressionada pela vida, não suportando os surtos da minha mãe e, os muitos homens que com ela passavam noites bebendo, sempre um rosto diferente e mais detestável, me obrigaram a tomar uma difícil decisão. Eu precisava sair de casa. Já fazia dias que estava planejando, o medo me dominava. Temia que um dos "amigos", dela tentasse me violentar. Ela, por sua vez, nem sequer buscava saber como eu estava, como me sentia. Com meu trabalho na padaria do Nícolas, sustentava nossa casa. Ela  trabalhava no bar do Wells, sempre voltava bêbada e acompanhada para casa. 
O Marcos sabia o quanto tudo aquilo era difícil para mim. Pensamos tantas vezes em fugirmos dali, no entanto, os pais dele sempre estiveram entre nós. Por mais que ele me amasse, nunca seria capaz de deixar seus pais. O mercadinho da família era tudo o que eles possuíam e seu pai, violento, o perseguiria até o inferno, como sempre citava.

Na quinta-feira, antes do Natal, contei mais uma vez minha situação para o Marcos. Esperava sinceramente que ele me encorajasse a suportar mais uns dias,  procuraria um lugar para morarmos e me levaria dali. Mas, não foi bem isso  que aconteceu. Ele estava diferente. Ouvia tudo com uma dureza no olhar, eu não entendia, brigamos. 

Joguei em sua cara o quanto esperava seu apoio, ele apenas chorava e nada respondia. Até que desisti, enchi-me de orgulho e declarei que iria embora. 
- Pensei que você me amava! -gritei. -Hoje vejo que me enganei. Eu vou te esquecer, Marcos. Eu juro que nunca mais quero te ver!
- Ana, eu... - Ele disse, visivelmente atordoado. 
- Adeus, Marcos!

Saí apressadamente em direção ao caminho de casa. Ele ficou imóvel no nosso banquinho. Preferi não olhar para trás, ou mudaria de ideia ao  mínimo gesto dele. No entanto, tudo havia acabado ali.
Chegando em casa, eu estava muito perturbada. Chorava descontroladamente, minha mãe não havia chegado, no período natalino tudo ficava lotado na nossa cidade, o Bar do Wells lotava. Ela voltaria muito tarde e certamente muito bêbada, com um pouco de sorte não traria ninguém para dormir com ela.
Peguei uma mochila coloquei alguns suprimentos. Meu tênis velho, um jeans preto mais novo e uma camisa azul, alguns poucos itens íntimos e de higiene pessoal. Não podia dar na cara que estava partindo.  Dei uma última olhada na casa, havia uma fotografia sobre o aparador, eu tinha seis anos, estava vestida para o frio, com uma touca rosa, a mamãe sorria, me abraçava. Não havia álcool, não havia homem algum, apenas mãe e filha. Felizes. Estávamos juntas, tínhamos uma à outra. Quando teríamos nos perdido? Quando ela mudou?
Sozinha, foi assim que me senti e, era assim que de fato me encontrava. Nunca soube quem foi o meu pai. Ele abandonou minha mãe logo que soube da gravidez dela. Durante anos ela lutou por mim, gostaria de saber por que ela parou de se importar. 

Saí.

O ônibus da central sairia à meia-noite, a rua estava fria e silenciosa. Com muito medo, mas munida de um desejo enorme de fugir daquele lugar onde fui tão igualmente feliz e infeliz, eu aguardei por cerca de uma hora até que ele apontou na estação. Comprei o bilhete, parti.
Na janela do meu assento, pude ver a minha vida desmoronando a cada movimento que o veículo fazia. Nenhuma expectativa. Nenhum ânimo. As lágrimas eram minha únicas companheiras.
Deixei tudo para trás.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Sete anos depois






A noite estava quente e úmida, a lua e duas estrelas no Céu testemunhavam um reencontro totalmente inesperado.
Uma multidão caminhava na rua iluminada, dois dias e seria o Natal. Uma alegria contagiava a todos.  A teoria do Espírito Natalino parecia fazer todo sentido quando se olhava o semblante dos passantes.  Era difícil calcular a quantidade de pessoas que visitavam o Presépio no centro da pequena cidade de Itaguaí naquela noite.
De repente, em meio a tantos rostos desconhecidos, uma mulher de cabelos longos e negros surgia. Seu vestido vermelho esvoaçante destacava sua silhueta delicada. Os olhos profundos cruzaram subitamente com os olhos de Marcos.  E como um filme,  cuja cena acaba de ser congelada,  eles paralisaram-se frente a frente. Seus olhos fixaram-se e por longos minutos apenas se olharam...
O silêncio foi quebrado com um turista passou entre os dois pedindo desculpas em um portunhol.

- Faz sete anos, - Marcos quebrou o gelo.
-Sim. Como você está?  -Disse Ana com voz trêmula.
- Bem. Muita coisa mudou. Estou bem.  - Respondeu  Marcos, ainda fixando o olhar nos profundos olhos verdes de Ana.
- Okay. Foi bom ver você. – Ana falou, começou virou-se lentamente e saiu a passos lentos, o que lhe permitiu ouvir Marcos, com voz entrecortada, balbuciar:
- Okay.

Marcos também foi embora. Enquanto mudavam os passos, as lágrimas de Ana desciam tímidas, com as mãos ela as enxugava e tentava sair dali o mais rápido possível.  O coração dele palpitava. Não esperava aquele reencontro. Havia uma dor inexplicável em seu semblante, ele pensava em todas as vezes que pôde tocá-la. Como gostaria de ter feito isso, e mais, como se arrependia de  ter deixado que ela partisse.
Quando chegou ao seu quarto, Ana retirou os sapatos, segurou o celular e, em sua playlist procurou uma música que há muito não ouvia - Only Time- Enya.  Aumentou o volume, jogou-se na cama em sua frente e, de bruços, permitiu que as lágrimas fluíssem como um rio...
Ela havia se segurado durante horas naquele dia, enquanto caminhava na rua retornando ao hotel, tentou ao máximo conter-se, embora o líquido insistente da dor continuasse a cair, ainda que timidamente.
Agora podia libertar-se, chorar sem que ninguém a interrompesse, preocupado, ou criticando sua fraqueza. Durante sete longos anos ela escondeu suas lágrimas das pessoas. Não queria chorar, o símbolo da fragilidade que ela recusava demonstrar, era o choro.
Marcos, entrou em casa ainda meio atordoado. Jurava que havia sido um sonho. Ela estava tão linda - pensava. “Como a cor dos cabelos realçava sua pele, como suas curvas se destacavam sob o vestido colorido de verão”. Aquela noite quente marcou o encontro mais emocionante de sua vida. Ana havia sido a única mulher que Marcos verdadeiramente, porém de modo covarde, amou.
E agora todo aquele sentimento parecia brotar como plantas bem regadas, que despontam ao amanhecer. Ele ainda a amava, mas ela certamente teria alguém ao seu lado. Sempre fora linda e com o ar maduro que o tempo lhe fornecera, estava deslumbrante.  Com os pensamentos desordenados, entrou no chuveiro, a água estava fria, adequada para a noite ardente que fazia. Uma canção tocava no seu Home, Enya – Only Time.
As gotas frias caíam em seu rosto e lágrimas de arrependimento e de um amor adormecido juntavam –se às gotículas do líquido restaurador.
Na banheira do hotel, uma jovem mulher, com o coração ferido e dominado pela dor chorava, silenciosamente, derramava-se.
Em meio ao silêncio, o telefone do quarto de Ana, no único hotel da pequena cidade, tocou...