Madrugada, três horas da manhã. Chovia. Uma chuva oscilante, ora forte, ora suave.
Deitada em sua cama, Laura lembrava. As lágrimas rolavam quase que no ritmo da chuva. Ela sentia esvair-se a cada gota que escorria do seu rosto. Lembranças. Ela sofria com a marca da lembrança, aquela que corta a alma dos apaixonados, ensinando-os que a dor é o destino perpétuo de quem ama.
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Após dias na cidade, Francis, decidiu sair do hotel. Estava hospedado no único que havia na cidade. Era pequeno, porém confortável.
Ele viera a cidade fingindo não saber bem o que o trouxera, no entanto, bem no fundo ele sabia a razão.
A semana inteira Laura passou sabendo que ele havia chegado. Cidade pequena tem essa característica, as notícias correm e rostos novos, ou antigos moradores são facilmente vistos e publicados no jornal das más línguas.
Perturbada com a ideia de vê-lo, ela torcia para que isso não ocorresse. Não sabia qual seria a reação do seu coração ao ver o único homem que havia tocado-o profundamente.
Francis passara toda a semana fazendo o mesmo, querendo evitá-la. Torcendo para não vê-la. Mas na terceira noite na cidade, movido pela saudade, sentado ao lado da janela contemplando a Lua, ouvia " Me Beija- Sam Alves" a música que embalou todos os planos que fizeram, todos os encontros que tiveram. Uma lágrima solitária corria em seu rosto de contornos firmes, marcados pelas lições que a vida ensinara.
Sozinha em sua casa, Laura ouvia a mesma canção, relembrando o seu primeiro beijo.
Na penúltima noite na cidade, ele decidiu tomar coragem e procurou o contato de Laura no aplicativo de conversas. Então enviou um áudio, era a música que embalou o Amor dos dois, seguida de uma mensagem: "Me encontra no lugar de sempre, antes do Pôr do Sol. "
Laura preparava-se para dormir quando ouviu o som de uma notificação. Verificou seu celular, já deitada em sua cama, após um dia exaustivo de atividades laborais. Ela reconheceu o número e levou um choque. Era ele. "O que teria enviado?" - ela se perguntava. Ao ouvir o som da música, seu coração palpitou desesperadamente. Uma lágrima silenciosa rolou em seu rosto. Uma chama ardente queimou em seu peito que, novamente aquecido, voltava a amar.
Laura sempre foi apaixonada pelo seu vizinho, Francis, o seu primeiro namorado, seu primeiro beijo. As circunstâncias o levaram a sair da cidade terminando bruscamente com a amada. A partida deixou- a incapaz de amar outra vez. No entanto, após quatro anos de dor o Thomy surgiu em sua vida e ela cansada de esperar, rendeu-se às palavras sinceras do rapaz e já fazia três anos que estavam juntos.
No início da semana, Thomy havia viajado a trabalho e voltaria em poucos dias. Saiu no mesmo dia que Francis retornara à cidade. E, coincidentemente, voltaria no mesmo dia da partida do rival.
Os pensamentos trouxeram uma dose de culpa na jovem. Seus sentimentos agora estavam confusos.
Sem resposta e desesperado por ouvir algo, Francis ligou:
- Alô, Laura?
- Oi, é você...
- Sou eu, Amor! - Falou Francis com voz trêmula.
- Amanhã? -disse Laura com um tom de cúmplice.
- Sim...eu te espero.
- Boa noite. - Ele suspirou.
- Boa noite.
Desconcertados. Ambos desligaram o telefone e suspiraram profundamente. Uma tempestade de flashes caiu sobre os dois. O Amor como fogueira ardente, queimava.
A noite passou voando. O desejo de reencontro despertou a moça que teria diversos compromissos naquele dia. Ele, por sua vez, estava no hotel e passou o dia relendo as cartas que trocaram quando namoravam. Ele as guardava cuidadosamente. Cada uma ainda carregava o perfume suave de Laura. Declarações de amor faziam o coração de Francis disparar como o cavalo de um guerreiro que parte para a batalha. Ele a amava e tinha certeza disso.
No trabalho, a jovem tentava disfarçar seu sorriso e o brilho apaixonado no olhar, mas não podia se conter. Todos perguntavam se ela havia falado com o Thomy, pois só isso explicaria tamanha emoção que transbordava. Mas ela apenas continuava a sorrir.
Às 16 horas, Laura saiu do trabalho e correu para casa. Tomou banho rapidamente e escolheu seu vestido azul - o preferido- pôs um casaco de flores brancas, fazia um frio suave, soltou seus longos cabelos castanhos, ao som de sua música ela perfumou-se e saiu.
Enquanto andava, Francis não podia conter o sorriso. A mulher da sua vida havia concordado em vê-lo outra vez.
Na rua, Laura caminhava, o vento balançava seus cabelos, seu perfume exalava e algumas pessoas a olhavam ao passar.
O local do encontro era na saída da cidade. Na adolescência eles sempre fugiam para se encontrarem lá.
Já não eram adolescentes, mas a sensação era a mesma do primeiro encontro. Ele chegou e de costas esperava por ela. Laura avistou ao longe uma figura de preto. Vestido para o frio, ele olhava o Pôr do Sol.
Laura aproximou-se e com a voz embargada disse:
- Francis?
Ainda de costas ele olhou para o alto e fechou os olhos. Virou-se.
- Amor...
Ela lançou-se em seus braços, abraçaram-se por um longo tempo. Ele a apertava contra o peito. A certeza de que a amava dominava sua mente. Laura estava atordoada, sentir-se outra vez nos braços do homem que amava, tudo era muito surreal.
Afastaram-se por um minuto...olharam-se nos olhos, os rostos muito próximos permitiam que sentissem a respiração quente tocando a pele. O desejo de beijá-la dominava Francis, porém o medo o impedia e, por algum tempo afastaram-se.
- Faz tanto tempo. -Disse ela, quebrando o silêncio.
-Sim, faz.
Sentados lado a lado. Iniciaram um diálogo marcado por olhares profundos que denunciavam muito amor. Francis explicou onde esteve, como era seu trabalho e Laura, em seguida, também explicava detalhes da nova vida.
Não demoraram a tocar no assunto do Thomy. Francis sutilmente perguntou se ela tinha alguém. Laura respondeu que sim. Havia encontrado alguém que a valorizava e amava. Certamente casaria com ele.
- Então eu cheguei tarde? - Ele questionou.
- Não sei. Acredito que nosso tempo passou. Eu sou fiel ao Thomy, para ser sincera, eu nem deveria estar aqui.
Ele apertou suas mãos e disse: - mas é aqui que você está.
- Laura, eu amo você, venha comigo. Vamos viver longe daqui. Teremos uma chance, uma vida nova.
Ao ouvi-lo as lágrimas desceram descontroladamente.
- Não posso. Preciso que saiba de uma coisa; eu amei você, na verdade, eu ainda amo e, possivelmente, você será o único sempre. Porém o Thomy foi meu apoio quando mais precisei. Ele é honrado, honesto e me ama. Não posso deixá-lo, não seria honesto da minha parte. - Falou às lágrimas.
- Ah, Meu Amor, como eu cheguei tarde. - Francis, trêmulo, balbuciava as palavras.
- Eu vim, porque precisava te ver, te tocar uma última vez. Despedir-me. Precisava mesmo ser no pôr do sol.
Francis aproximou-se e com a respiração entrecortada, olhou no fundo dos olhos de Laura e a beijou. Rendida, ela entregou-se àquele momento tão sonhado durante tantos anos. O sol debruçando-se no horizonte testemunhava o Amor, juntamente com os tons multicoloridos do Céu.
- Pare, eu não posso. - Disse ela, tentando se esquivar dos braços dele. Entretanto, ele a abraçou, olhou-a nos olhos profundamente e disse: - Vem!
-Francis, não posso! Hoje nós vamos assistir ao Pôr do Sol, e quando ele deitar sobre o horizonte, levará consigo todo esse Amor que sentimos. Ele levará nossos planos, suspiros e lágrimas, -fez uma pausa- você voltará à sua vida e eu também voltarei. Sempre lembraremos um do outro, como aquele Amor que se pode sentir, mas não se pode viver. Eu sempre serei sua. E você será meu. Mas não ficaremos juntos.
-Curvando o olhar, Laura chorava.
- É loucura. Somos loucos, fugimos do Amor que foi destinado a nós. Eu sempre vou te amar. Mas eu posso respeitar, entender. Afinal, eu quero que você seja feliz, ainda que não seja ao meu lado.
- Então sente-se ao meu lado. Vamos assistir ao Pôr do Sol. - Ela falou suavemente.
Ele assentou-se ao seu lado, sobre a pedra que havia embaixo da árvore onde haviam marcado suas iniciais, na saída da cidade.
E enquanto o Céu se pintava com as cores do crepúsculo, o Sol levava consigo uma História de Amor, que jamais seria esquecida.