sábado, 17 de setembro de 2016

Você é real?





Hoje faz 5 anos. 
Se eu fechar os meus olhos o vejo, ainda lembro como se fosse hoje. A dor não destruiu o amor.

Era tarde fria de inverno, o movimento na livraria estava cada vez mais intenso, mal pude almoçar, tamanha a demanda de serviço. Período de férias, turistas na cidade e intelectuais - o que era raro.
A Clara reclamava de tudo, queria sair mais cedo e dormir, pois a festa da noite anterior tinha acabado com as suas energias. Não conseguia parar em pé.
À porta, quando tudo parecia calmo, o sino bateu anunciando alguém. Ele entrou.
Lindo, aquele ar de surfista de livros, sério, corpo dourado...olhar marcante, era alto, vestia um jeans escuro e suéter azul.
Travei.
Clara o atendeu. Levou dois livros: um sobre sistemas de computadores e outro que tratava de redes específicas.
Notei seu cavalheirismo na maneira como tratou e despediu-se da minha colega de trabalho.
Antes de cruzar a porta, seus olhos buscaram os meus. No momento, meu coração acelerou, um frio e calor dominavam o meu ser. 
Foi amor nos meus olhos, vi também nos seus.

Às 17h30, como sempre, saí do trabalho e corri para minha casa. Não ia à faculdade, porque estava em férias de inverno, no entanto, precisava organizar o cubículo que chamava de casa, embora tivesse apenas dois cômodos, e, depois, descansaria.
Comecei limpar às 18h, separei as roupas sujas, pus a cozinha em ordem, voltei ao quarto e organizei livros, passei e guardai as roupas limpas, restou apenas passar cera no chão.
Às 20h a Clara me ligou, como não conseguia dormir; resolveu sair de casa, seus planos eram: pizzaria e música sem hora para voltar para casa. Pensei muito e decidi sair de casa, estava exausta, mas desde que começara as atividades domésticas lembrava aqueles olhos lindos me encarando.
Tomei um banho, escolhi um vestido confortável e um casaco, pois à noite o frio estava acentuado, nada de maquiagem. Não me sentia bem quando usava. Acreditando estar apresentável, saí.
Na praça do centro da pequena cidade de Três Marias, sentei-me em um banco, enquanto aguardava minha colega.
Distraída pressionando as mãos, não percebi quando alguém chegou em minha frente e, com timidez, falou:
- Boa noite. Eu posso sentar com você?
Meu coração quase parou, o homem que embalou meus pensamentos naquela noite estava falando comigo.
- Sim, claro, - respondi trêmula.
Ele sentou, um perfume amadeirado tocou minhas narinas; eu tive certeza que jamais esqueceria aquele cheiro. Nervosa, trêmula e perdidamente encantada, passei a responder suas perguntas. Quando me dei conta já estávamos falando como se nos conhecêssemos há anos. A sua aparente timidez foi substituída por histórias de vida e palavras doces, olhares profundos e um leve tremor nos lábios.
Não percebi o tempo passar, mas como havia esfriado ainda mais, olhei no relógio já passava das 22h30, lembrei da Clara que não havia aparecido. Ele percebendo meu ar preocupado e falou: 
- Ela não virá.

- Como não, como você sabe que estou esperando alguém? - perguntei curiosa.
- Eu pedi a sua amiga que marcasse esse encontro. - Após uma pausa considerável, continuou:
- A verdade é que quando entrei naquela livraria eu só consegui enxergar você. Então implorei que a Clara me ajudasse a te encontrar.

Enquanto falava, seus olhos encontraram os meus, vacilaram, e fitaram-se outra vez...
Quando dei por conta, estava presa aos seus lábios. Suavemente fui envolvida pelo seu beijo, meu coração havia sofrido uma descarga elétrica, batia no compasso de cavalos rumo a uma violenta batalha. 
Senti que já nos pertencíamos.

Foi amor...