segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Recomeçar

O sol estava começando  a nascer quando Amanda chegou àquela  cidadezinha pacata. Após  a separação  dos pais, ela mudara-se com sua mãe  para o Condado  de San Luís. O clima úmido  e frio, era totalmente diferente do que ela estava acostumada. O litoral, de onde vinha, era quente, o sol brilhava intenso até  no inverno - que de verdade, existia apenas no calendário.

O carro estacionou. A casa era bonita, havia uma chaminé, o que Amanda sempre sonhou, pois o litoral nunca foi  seu ambiente preferido. Vivia visitando páginas  na internet que exibissem lugares frios, chuvosos, florestas densas. Sonhava um dia explorar matas, vestir casacos todos dos dias,  sentar próximo  a uma lareira, procurar madeira para o fogo.

Sonhos: de vários  deles era feita a mente da garota que, na altura dos seus 18 anos, queria muito respirar, viver...

As diversas brigas de seus pais estavam anunciando o que estaria por vir. Ela nunca desejou que eles se separassem, porém  a convivência  estava insuportável.  Quando chegava da escola, ela sempre se deparava com as discussões. A situação  ficou insustentável  quando sua mãe  descobriu os gastos excessivos de Carl, o pai de Amanda. Assim que descobriu com quem ele estava gastando, arrasada, ela exigiu o divórcio.  Estava sendo traída  havia 2 anos. A indiferença  do marido fez Anete desistir de quase tudo, no entanto, sua filha era seu porto seguro, sua certeza  mais profunda.

Dessa forma, a separação foi suportável,  e Anete decidiu satisfazer os sonhos de sua filha,  que sempre quis viver em um lugar que predominasse a chuva; e também sabia que ficaria perto da faculdade que sua garota  desejava cursar.

O divórcio  garantiu uma quantia suficiente para recomeçar  em outro  lugar, além  de alguns imóveis.  A família  era bem estruturada.

Quando desceu do carro, Amanda respirou  fundo. Estava feliz por realizar seu sonho de infância, mas nunca desejou que tudo ocorresse em tais circunstâncias. 

Deixar seus únicos  dois amigos também  não  foi uma tarefa fácil, porém  Mandy (como a mãe  a chamava) segurou o choro e sabia que, de algum modo, os encontraria outra vez.

O Sol  tímido  foi clareando ainda mais o ambiente. Sua mãe  abraçou-a e juntas começaram  a retirar  as coisas do carro. As demais viriam na sexta pela transportadora.

Às  9:00 da manhã, quando arrumava as molduras no seu quarto, Mandy ouviu um barulho, pareciam  vozes vindas da sala; desceu um pouco às  escadas e percebeu que havia uma mulher loira, beirando os 40, que conversava alegremente com sua mãe.  Era sua vizinha - pensou- e estava certa.

Louise era simpática  o suficiente para correr e ajudar a nova vizinha, mesmo sem  nunca terem se visto.
Amanda decidiu voltar e continuar a organização  do seu quarto. Estava sentindo um pouco de frio e percebeu sua janela aberta. Saiu em direção à  mesma para fechá-la.

Quando se preparava para puxar o vidro, deparou-se com a janela da casa vizinha. Notou  que alguém  a observava discretamente. Ele tinha cabelos negros e pele muito branca, àquela  distância  foi só  isso que conseguiu  constatar, embora tenha se esforçado  um pouco para enxergar algum outro detalhe; havia somente uma certeza: ele era o cara mais lindo que ela já tinha visto.

Ambos disfarçaram.
...